As Jornadas Mundiais da Juventude de Lisboa 2023 são, muito justamente, consideradas o maior evento jamais realizado no nosso País.
O impacto económico encontra-se por apurar na sua totalidade, especialmente no que se refere às despesas, mas segundo os resultados de um estudo, elaborado por uma entidade independente e entregue aos organizadores -, a Fundação JMJ 2023 -, o retorno estimado situa-se entre 411 e 564 milhões de euros, em termos de Valor Acrescentado Bruto (VAB), e entre 811 e 1.100 milhões de Euros, em termos de Produção.
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Por outro lado, a grande cobertura mediática internacional das jornadas, apesar de não ser mensurável em termos financeiros, contribuiu para a enorme promoção da imagem do nosso País no exterior, cujos benefícios económicos e turísticos chegarão nos anos vindouros.
Porém, para além das contrapartidas económicas, sempre importantes, sobretudo nos tempos que correm, todos estaremos de acordo em considerar que o grande sucesso das jornadas, fica a dever-se, essencialmente, ao seu enorme impacto externo.
O carisma, a simplicidade e a humildade, principais características do Papa Francisco, aliadas a mensagens simples, concretas, concisas e directas, assumem-se, no seu conjunto, como as grandes responsáveis pela atracção dos jovens católicos e não católicos, um fenómeno sem precedentes, a que a Igreja e o mundo não estavam habituados. “Não tenhais medo”, disse ele aos jovens no Parque Tejo. Sejam os “surfistas do amor”, acrescentou.
Francisco fala de forma descontraída, usa um vocabulário incrivelmente simples, ou seja, fala a língua de todos nós, o que motiva e mobiliza as massas jovens e menos jovens.
Os discursos improvisados do Papa e o calor que este coloca nas suas intervenções, fazem do Chefe da Igreja Católica um caso único em matéria de comunicação, consubstanciada na adesão das pessoas à sua forma informal de comunicar.
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Uma coisa é certa: as Jornadas Mundiais da Juventude superaram todas as expectativas, não só porque atraíram mais de um milhão e meio de peregrinos, mas também porque todos apreciaram e enalteceram a respectiva organização.
O Papa tem um dom único, apenas ao alcance dos grandes homens próximos do divino, traduzido na capacidade em transmitir esperança e confiança no futuro a crentes e não crentes. As Jornadas Mundiais da Juventude assumiram-se, neste contexto, como um evento de grande fraternidade e alegria, nunca visto, anteriormente, nem por cá, nem além-fronteiras.
“Rezo pela paz, não faço anúncios”. São afirmações desta dimensão, simultaneamente simples, sábias e profundas, que o Papa conquista o coração das pessoas, apelando à tendência natural da inteligência humana para a verdade.
Francisco é verdadeiro e autêntico, vive de acordo com as suas convicções, sem receio de expor as fraquezas da própria Igreja e da humanidade em geral, na medida em que nada nem ninguém é perfeito, assumindo sem constrangimentos que o homem é um ser com defeitos e virtudes.
Contudo, terá sido o apelo do Papa para que a Igreja seja um espaço aberto para todos que mais terá marcado as mensagens deste Profeta da Igreja, diria da humanidade. “Todos, todos, todos” …, sem excepção, disse, trazendo para a actualidade os tabus que a Igreja ocultou durante séculos nas estantes do esquecimento dos seus arquivos históricos.
Esta postura não é consensual na Igreja, havendo muitos que defendem um discurso teológico mais fechado, próprio de superioridade e de poder, práticas da Igreja no passado, mas pouco humanista e, por isso mesmo, distante das pessoas.
Convenhamos que se trata de um discurso novo, contrário à prática ancestral da Igreja, cuja doutrina assentava sobretudo no pecado. O homem é um produto do pecado e um pecador nato, não um ser humano com defeitos e virtudes e, por conseguinte, feito à imagem e semelhança de Deus, conforme decorre do consagrado no Livro da Lei Sagrada – a Bíblia.
Assim, o impacto real das Jornadas da Juventude em Portugal e nos jovens de um mundo em total degradação e uma crise civilizacional profunda, merecem-nos não só toda a admiração e respeito, mas também a recusa em evidenciar qualquer enfoque negativo em aspectos que poderão ter corrido menos bem e que poderiam manchar uma iniciativa desta generosidade e amplitude.
Por tudo isto, em tempo de guerra, onde imperam e crescem as autocracias, os ódios, o medo e a falta de esperança, Lisboa foi, mesmo que apenas por alguns dias, a capital da paz e da esperança. Por tudo isto devemos estar gratos.
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Este encontro de jovens de todo o mundo, mais de 150 países representados, foi capaz de celebrar uma amizade que, apesar de ser independente de crenças, não deixou de promover o Evangelho e a Fé, enquanto legados mais importantes do Cristianismo.
A realização destas jornadas acontece após uma grave pandemia universal e convocou-nos para uma realidade que muitos de nós não esperávamos nem estávamos preparados, atendendo à sua dimensão, grandiosidade, alcance e simplicidade.
Em boa verdade, habituaram-nos a uma generalizada falta de inspiração dos nossos líderes, quer nacionais quer mundiais, pouco convincentes, vazios de ideias e valores e, por essa via, pouco ou nada mobilizadores e aglutinadores de vontades colectivas para desenvolver projectos em prol do interesse comum.
Num mundo órfão de referências catalisadoras, dividido e sem rumo, o Papa emerge como um símbolo de unidade e de esperança. É preciso viver, em vez de ir vivendo, salientou em diversas ocasiões.
Francisco não deixou de ser assertivo em alguns dos seus discursos, nomeadamente quando desafiou o Capitalismo a investir mais no verdadeiro capital humano, chamando a atenção para os três pilares essenciais do homem – a educação, a saúde e o estado social.
Todos reconhecemos o carácter excepcional e raro deste Papa. Homem popular, simples, humilde, bondoso e indulgente, evidencia uma disposição para a justiça social e uma aversão ao mercantilismo, sendo, em suma, um Homem Bom. Tudo isto é, afinal, a sua Graça e, já agora, a nossa alegria e contentamento.
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* Empresário / Gestor Hoteleiro
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