Todo o mundo tem os olhos postos e a alma trémula na possibilidade da Rússia desencadear uma guerra nuclear. E se tinha na China um amigo do peito, tem agora uma amizade de interesses comuns. A guerra nuclear, que começou por ser uma mera especulação ou receio infundado, começa a ganhar contornos que podem indiciar qualquer coisa de temível. Oiçamos as últimas declarações de Medvedev, que nem sequer é uma figura secundária em toda a política do Kremlin, sob a égide de Putin, afirmar que, em último recurso, a Rússia empregará a força nuclear. O armamento contra o invasor da Ucrânia, o desespero de Putin ao intensificar os bombardeamentos a Kiev, o reforço militar, quer de um lado quer do outro, não indiciam um ambiente de paz, outrossim de guerra não convencional. Uma derrota militar para Putin, pode ser princípio do fim da humanidade. Putin, vendo-se vencido, em vez de dar um tiro na cabeça como fez Hitler, pode recorrer ao seu poderio atómico e suscitar a “última batalha apocalítica”. Com animal ferido ninguém se meta. Não há quem se suicide depois de matar os outros? Talvez pense, antes morrerem todos do que morrer apenas eu. A diplomacia está derrotada e impotente. Está em evaporação. Nenhuma das partes em conflito pode recuar nos seus propósitos, nem a Rússia pode desocupar o terreno que abusivamente anexou como repúblicas soviéticas, a não ser em situação de vencida, o que não será espectável, embora desejável, nem a Ucrânia pode deixar de lutar pela integridade do seu território nacional. Estas duas situações são trincheiras inultrapassáveis. O Papa teme uma guerra mundial e, quanto a nós, o seu medo radica precisamente nesta irredutibilidade dos beligerantes. Esta situação é tão visível que não deixa dúvidas: tão perto está duma realidade como a realidade está próxima de um Armagedão. Não seria melhor a Ucrânia dar à Rússia as repúblicas que ela anexou e acabar com esta guerra medonha? Quem é o pai que abandona o filho em risco de vida? A ovelha tresmalhada é a mais desejada pelo pastor. A Pátria é a casa de todos. Disse um dia o Marquês de Pombal ao embaixador espanhol: “o homem é tão forte em sua casa que até depois de morto são precisos quatro para o levar”. É esta matriz da resistência heroica dos ucranianos. Mas esta heroicidade tem um preço: de imediato, sacrifícios de vidas ; em tempos a virem, uma possível guerra nuclear. O Armagedão não é a vitória dos bons contra os maus, é a derrota de ambos e a extinção de atual civilização. Lá no fundo onde bruxuleia uma réstia de esperança, espero que os russos acordem e lhe digam: Nunca serás Pedro, o Grande, mas serás para a história, Putin o louco. E o exército poderia fazê-lo sem, contudo, substituir uma ditadura por outra como aconteceu com a revolução bolchevique de 1917. O povo russo merece conhecer o que é viver em paz e em democracia.
Armagedão?
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05.06.2023
Todo o mundo tem os olhos postos e a alma trémula na possibilidade da Rússia desencadear uma guerra nuclear. E se tinha na China um amigo do peito, tem agora uma amizade de interesses comuns. A guerra nuclear, que começou por ser uma mera especulação ou receio infundado, começa a ganhar contornos que podem indiciar qualquer coisa de temível. Oiçamos as últimas declarações de Medvedev, que nem sequer é uma figura secundária em toda a política do Kremlin, sob a égide de Putin, afirmar que, em último recurso, a Rússia empregará a força nuclear. O armamento contra o invasor da Ucrânia, o desespero de Putin ao intensificar os bombardeamentos a Kiev, o reforço militar, quer de um lado quer do outro, não indiciam........
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