A fartura faz o gado galego
Manuel Igreja
Diziam os mais antigos da minha aldeia, nos meus tempos de menino e moço, que a fartura faz o gado galego. No seu imenso saber de experiência feito, facilmente transportavam aquilo que viam na natureza, que se lhes desenrolava em frente dos olhos, para o que notavam nas atitudes humanas, nem sempre humanas atitudes, pois o cruel sempre andou a par com as sublimes atitudes de compreensão e solidariedade.
Notavam eles que, por exemplo, e indo ao rego na lavra para não me desviar, quando um conjunto de ovelhas pastava num local com escassos recursos de mastigar, comia tudo, desde silvas a ervas, aparentemente, menos apetitosas. Deixavam o terreno mais limpo que rosto de homem acabado de escanhoar.
No entanto, quando o solo disponibilizava comida farta e saborosa, faziam-se esquisitas e lambiscavam. Assumiam quase um ar de desdém, assim como quem não está para se chatear. Era mesmo quando se entretinham a enguedelhar umas com as outras.
Criativas, como só elas, nesse tempo com tempo para tudo........
© Diário de Trás-os-Montes
visit website