Quem nunca teve um desgosto de amor? O amor nem sempre é para a vida toda e, em muitas situações, é mesmo apenas "até que o tempo nos separe". Falamos hoje da perda de uma relação afetiva importante e de algumas estratégias para melhor superar um desgosto de amor.

Com o fim de uma relação com alguém significativo, é natural que sejam ativadas emoções mais desagradáveis. Pode sentir-se tristeza, angústia, medo, raiva ou uma sensação de vazio e abandono, por exemplo. Não existe um padrão de resposta universal e cada pessoa experiencia a sua perda de uma forma muito própria. Aqui, importa salientar que não existem emoções boas ou más, sendo certo que todas elas podem revelar-se adaptativas e ajudar a gerir uma perda. Por isso, permita-se sentir as suas emoções, aceitando-as.

Expressar as emoções de uma forma ajustada é também fundamental neste processo de elaboração da perda. Deve falar-se sobre o que se sente com alguém de confiança e contrariar pensamentos como "não quero incomodar" ou "os outros não vão entender a minha dor". Ao colocar por palavras aquilo que pensa e sente estará a (re)construir uma narrativa sobre essa vivência, à qual pode aprender a dar outro significado com a ajuda de quem o escuta.

Escrever sobre aquilo que se sente também poderá ser uma ótima opção. A escrita terapêutica (ou journaling) é uma forma de terapia expressiva, em que se usa a palavra escrita como meio para processar e elaborar o que se viveu, resultando em benefícios terapêuticos. A escrita terapêutica envolve processos cognitivos e emocionais, o que significa que a pessoa é ajudada a refletir e a expressar o que sente e pensa, traduzindo para palavras as suas vivências presentes ou passadas. Ao escrever, a pessoa expressa os seus pensamentos e emoções, encontrando uma oportunidade para aumentar o seu autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.

Da mesma forma que é importante encontrar espaços de reflexão e partilha, cuidar de si mesmo e mimar-se assume aqui um papel preponderante. Lembre-se dos três pilares do bem-estar psicológico - o sono, a alimentação e o exercício físico - e de como estes devem manter-se equilibrados para uma maior sensação de bem-estar. Em paralelo, o isolamento social deve ser contrariado, pelo que conviver com pessoas de quem se gosta em contextos gratificantes e de lazer é algo que deve ser priorizado.

Em isolamento e sem estímulos mais distratores, é expectável que os pensamentos negativos surjam com maior frequência e intensidade, podendo mesmo tornar-se ruminantes. Pensamentos estes que, não raras vezes, surgem totalmente armadilhados... por exemplo, "eu mereço isto", "a culpa é toda minha/toda do outro", "nunca serei feliz com alguém", "ninguém gosta de mim", "eu não valho nada"... armadilhas que levam a uma leitura distorcida da realidade e que, naturalmente, potenciam emoções mais desagradáveis e comportamentos mais desadequados. Com a ajuda de alguém, se necessário for, importa desconstruir e disputar esta forma de pensar.

Por fim, as redes sociais... depois de um corte relacional, seguir a outra pessoa através das redes sociais para saber o que faz, onde e com quem, revela-se uma estratégia contraproducente. Não ajuda em nada, em boa verdade. Liberte-se dessas amarras.

Os desgostos de amor fazem parte da vida e, tal como acontece com outras situações de crise, podem representar um risco acrescido de desorganização ou patologia ou, pelo contrário, uma oportunidade de aprendizagem e crescimento pessoal. Tudo depende das estratégias que adotamos para lidar com eles.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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Superar um desgosto de amor

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27.10.2022

Quem nunca teve um desgosto de amor? O amor nem sempre é para a vida toda e, em muitas situações, é mesmo apenas "até que o tempo nos separe". Falamos hoje da perda de uma relação afetiva importante e de algumas estratégias para melhor superar um desgosto de amor.

Com o fim de uma relação com alguém significativo, é natural que sejam ativadas emoções mais desagradáveis. Pode sentir-se tristeza, angústia, medo, raiva ou uma sensação de vazio e abandono, por exemplo. Não existe um padrão de resposta universal e cada pessoa experiencia a sua perda de uma forma muito própria. Aqui, importa salientar que não existem emoções boas ou más, sendo certo que todas elas podem revelar-se adaptativas e ajudar a gerir uma perda. Por isso, permita-se sentir as suas emoções, aceitando-as.

Expressar as emoções de uma forma ajustada é também fundamental neste processo de elaboração da perda. Deve........

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