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Semanologia: Um conto de Natal

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25.12.2023

Fazia frio. A geada começara de noite, crescendo entre as rochas e os soutos repletos de caruma, até ao raiar da aurora. Fixou os ramos de pinheiro, as folhas secas dos carvalhos, os despojos invernais dos castanheiros, na manta ténue e quase transparente. O dia fez-se entre os pássaros e os coelhos, pouco mais se movia. O silêncio, com a majestade simples dos grandes, tinha a mão estendida desde as orlas do rio, no berço do vale, até ao cume das montanhas, onde se cumpre o horizonte. Eu cresci aqui, na curva do outeiro. Toquei o dorso escorregadio da truta sabida, tatuada pelo ferro dos anzóis, no fundão perto da represa, onde ela habitava os movimentos dos próprios círculos. Atravessei o pontão quando as águas revoltas e subi até ao pináculo do antigo castro, nuvens escondiam as terras baixas e o sol as fazia púrpura.

Guardo na pele mapas dos caminhos enlameados e com cheiro a estrume de cavalo, das valas cheias de ervas viçosas, depois da chuva.

Celebro as unhas escuras, repletas de húmus, quando com o cinzel recortava cubos de musgo e punha no saco que a mãe me........

© Diário de Notícias


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