Kamala Harris, enigma por decifrar
Faz hoje 60 anos e quando, há um ano, completava 59 quase de certeza não imaginaria que, ao chegar às seis décadas, estaria a encabeçar a candidatura presidencial democrata para as eleições que dentro de duas semanas e dois dias vão definir (espera-se) quem será o próximo presidente dos Estados Unidos.
Numa corrida muito marcada pela idade avançada dos pretendentes - primeiro foi Joe Biden que se retirou, pressionado, vários dias depois de um debate desastroso; agora são os momentos bizarros de manifesto desligamento da realidade que Donald Trump tem em plena campanha - a dupla democrata tem, a partir de hoje, os mesmos 60 anos.
Kamala Harris não é carismática, mas tem sido disciplinada e dedicada. Apanhou um comboio imprevisível, sem grande tempo para calcular o risco. Entrou melhor do que quase todos esperavam, devolveu a esperança ao campo democrata, passou em poucas semanas de um grande atraso a uma liderança (ainda que sempre curta) a todos os títulos improvável.
Teve uma boa convenção, em Chicago, proferiu discurso à sua imagem (bem construído, correto, certinho, bem entregue, mas sem particular brilho), voltou a surpreender no único debate com Trump - onde foi muito melhor que o adversário, mostrando preparação, assertividade e maior capacidade de ir à jugular do que muitos antecipavam.
Só que voltou a não chegar.
Em vez de saltar para uma liderança clara e indisputável, as semanas posteriores ao debate da ABC revelaram um desconfortável empate técnico, sem ponta de descolagem a favor da democrata. Talvez por culpa de uma certa indefinição identitária da qual insiste em não sair: vem do progressismo, mas jura ser “centrista, moderada e capitalista”; é negra e mulher, mas nunca puxa da dimensão histórica que poderá representar a chegada........
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