Como sabiamente alguém exortou, vulgarmente atribuído a Eça de Queiroz, “de tempos a tempos, políticos e fraldas devem ser mudados pela mesma razão”, aludindo à higiénica alternância de protagonistas no governo do país. Ora, se é evidente que o conceito de “governo do país” nos dias de hoje abrange o sistema financeiro, não deve ser totalmente despropositado estender o mesmo padrão de salubridade aos banqueiros da atualidade. Aliás, de crise para crise na última década, assistimos à alternância cíclica da tolice intelectual entre banqueiros e políticos sobre a pecha libertina do povo português viver acima das suas possibilidades. Esta cultura esbanjadora dos salários dourados de 1000€ já tinha sido repreendida em 2011 pelo Presidente da República, em 2012 pelo Primeiro Ministro, em 2014 pelo banqueiro chefe do Novo Banco, e já por estes dias, pelo Presidente do Santander. Esta é uma daquelas verdades nacionais que parece incomodar verdadeiramente o Portugal do Chiado, como definido por Eça. Para o escritor, Portugal era, afinal, o que um pequeno grupo de jornalistas, políticos e banqueiros decidisse no Chiado, fosse no Grémio ou na Casa Havaneza. Além de S. Bento, era no Chiado que se faziam as verdades nacionais. No Portugal de hoje, e passadas algumas crises desde 2011, parece ainda haver espaço para as verdades do Chiado, e principalmente, para o despautério intemporal da banca portuguesa que em plena crise inflacionista alimenta margens financeiras à custa da baixa remuneração dos depósitos. A taxa média de remuneração dos depósitos particulares em Portugal é a mais baixa da zona Euro. Isto é, no meio desta gravíssima crise dos custos de vida, os bancos assobiam uma vez mais para o lado, tal como em 2011 por razões diferentes. Enquanto as empresas globais hoje competem na sua responsabilidade social e ambiental como parte da sua estratégia de negócio, os banqueiros luso-espanhóis do burgo continuam a viver o Portugal do Chiado em vez de se adiantarem na história da sua própria responsabilidade social.

QOSHE - Banqueiros e fraldas - Rui Duarte
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Banqueiros e fraldas

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06.02.2023

Como sabiamente alguém exortou, vulgarmente atribuído a Eça de Queiroz, “de tempos a tempos, políticos e fraldas devem ser mudados pela mesma razão”, aludindo à higiénica alternância de protagonistas no governo do país. Ora, se é evidente que o conceito de “governo do país” nos dias de hoje abrange o sistema financeiro, não deve ser totalmente despropositado estender o mesmo padrão de salubridade aos banqueiros da atualidade. Aliás, de crise para crise na última década,........

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