A esperança tem um tempo e um conteúdo? Qual a diferença de viver com esperança ou sem ela? Como é que se alimenta a esperança?
Muitos falam do tempo atual como tempo de incertezas, complexidades, dramas e dificuldades. Foi a crise, depois a pandemia, depois a guerra, depois a inflação… e se canhar nunca houve verdadeiramente um depois. O nosso dicionário existencial volta a usar as palavras: encolher, regredir, contenção…
Como é que podemos falar de esperança no meio de tantas razões para a desesperança? Que sentido faz falar de esperança? Não será uma ilusão? Ou simplesmente uma tentativa de fuga? Ou simplesmente uma indiferença diante da realidade? Ou uma coisa para ‘meninos de bem’?
A esperança não está no regresso ao passado, também não está na ilusão do futuro, nem sequer na angústia do presente. Então qual é o tempo da esperança?
A esperança vive-se no presente, mas o presente ganha sentido maior quando está aberto ao futuro. É uma questão de ‘profundidade do olhar’ – um ver para além da evidência.
Por isso, não é tanto uma questão de esperar dias melhores, mas antes de procurar fazer de cada dia um melhor dia, de cada situação uma oportunidade.
A esperança vive não de teorias, mas de gestos concretos; não de grandes acontecimentos, mas de pequenos pormenores que fazem toda a diferença.
Quem não consegue distinguir o tempo de espera numa consulta no hospital, da espera de alguém que gostamos muito. O tempo é diferente, vive-se de maneira diferente e conta-se de maneira diferente.
A esperança é feita de relações, de pessoas, de encontros, de abraços, de cumplicidade partilhada. Por isso, é possível viver a esperança no meio de uma guerra ou numa cama de um hospital.
Para os cristãos o tempo que antecede o Natal chama-se Advento que significa vinda, chegada ou aproximação. Os cristãos esperam Aquele que já sabem que vai nascer – tal como uma mãe espera um filho. Trata-se de uma metáfora litúrgica que nos convoca para a renovação, para a conversão, para o reacender de uma esperança.
De facto, o Advento conjuga-se com gravidez, com passagem da espera à esperança, com gestos de aproximação, com um coração que se preparar para acolher…
Espero alguém?
Quando deixamos de esperar alguém… a chama da esperança diminui e fica à mercê de uma corrente de ar que a pode apagar definitivamente.

QOSHE - Esperas alguém? - Nuno Santos
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Esperas alguém?

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05.12.2022

A esperança tem um tempo e um conteúdo? Qual a diferença de viver com esperança ou sem ela? Como é que se alimenta a esperança?
Muitos falam do tempo atual como tempo de incertezas, complexidades, dramas e dificuldades. Foi a crise, depois a pandemia, depois a guerra, depois a inflação… e se canhar nunca houve verdadeiramente um depois. O nosso dicionário existencial volta a usar as palavras: encolher, regredir, contenção…
Como é que podemos falar de esperança no meio de tantas razões para a desesperança? Que sentido faz falar de esperança? Não será uma ilusão?........

© Diário As Beiras


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