Neste dezembro, foi anunciado ao mundo que se conseguiu realizar, pela primeira vez, uma reação de fusão nuclear no Laboratório Nacional Lawrence Livermore dos Estados Unidos. Ou seja, juntar núcleos atómicos leves de forma a que se criem outros núcleos atómicos, mais pesados, libertando mais energia do que aquela que se gastou. Curiosamente, foi também num dezembro, mas de 1938, que foi obtida a primeira fissão nuclear. Ou seja, partindo núcleos atómicos do pesado urânio noutros mais leves libertou-se mais energia do que a que se gastou.
Hoje, há cerca de 440 reatores nucleares em funcionamento no mundo produzindo 11% da energia elétrica mundial, capacidade de produção essa para a qual ainda não encontrámos substituto viável a curto prazo. Embora o nuclear não emita dióxido de carbono, o facto é que 3% dos seus resíduos são altamente radioativos durante milhares de anos e ainda não encontrámos outra solução que não armazená-los bem fundo na Terra.
A fusão nuclear é a forma como as estrelas produzem energia no seu interior, sendo igualmente a forma como se produzem os mais importantes elementos químicos do nosso Universo. Foi também no ano de 1938 que se conseguiu compreender o processo. No interior do Sol, a pressão de 200 milhões de atmosferas e a temperatura de 15 milhões de graus são suficientes para forçar a junção (fusão) de núcleos de hidrogénio, criando núcleos de hélio e libertando energia (os eletrões, aqui, não participam). O processo não é tão eficiente quanto se possa pensar, pois a energia produzida num metro cúbico no centro do Sol chegaria apenas para manter ligados o frigorífico e a televisão, enquanto que com 4 miligramas de combustível nuclear conseguimos o mesmo. Porém, o Sol é 1,3 milhões de vezes mais volumoso do que a Terra e a cada segundo funde 600 milhões de toneladas de hidrogénio. Num segundo todos os reatores nucleares do planeta consomem apenas 30 quilogramas de combustível mas, apesar de a fissão gerar mais energia do que a fusão, nem com a fissão de todas as reservas de urânio do planeta conseguiríamos atingir um milionésimo de um milionésimo da potência do sol.
Demorará algum tempo até que consigamos construir uma central de fusão nuclear, mas finalmente conseguimos igualar as estrelas. As reservas de hidrogénio na Terra são quase inesgotáveis e poucos são os resíduos radioativos de um reator de fusão. Chegará o “nuclear limpo” a tempo de inverter a crise climática? Tenhamos confiança que sim, mas não esperemos sentados!

QOSHE - O “nuclear limpo” das estrelas - Nuno Peixinho
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O “nuclear limpo” das estrelas

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29.12.2022

Neste dezembro, foi anunciado ao mundo que se conseguiu realizar, pela primeira vez, uma reação de fusão nuclear no Laboratório Nacional Lawrence Livermore dos Estados Unidos. Ou seja, juntar núcleos atómicos leves de forma a que se criem outros núcleos atómicos, mais pesados, libertando mais energia do que aquela que se gastou. Curiosamente, foi também num dezembro, mas de 1938, que foi obtida a primeira fissão nuclear. Ou seja, partindo núcleos atómicos do pesado urânio noutros mais leves libertou-se mais energia do que a que se gastou.
Hoje, há cerca de 440 reatores nucleares em funcionamento no mundo........

© Diário As Beiras


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