No dia 18 de outubro, foi descoberto um novo objecto no sistema solar, passando a 9100 km da Terra, recebendo a designação provisória de 2022 UQ1. O número 2022 indica o ano da descoberta. A primeira letra, U, refere-se à vigésima quinzena do ano, ou seja, a quinzena de 16 a 31 de outubro — a primeira letra vai de A até Y saltando a letra I. A segunda letra e o índice numérico refere-se ao número de ordem do objeto nas descobertas dessa quinzena. Ou seja, o primeiro seria A, o segundo B, continuando até ao Z para o vigésimo quinto (pois também se salta a letra I), passando depois a A1 para o vigésimo sexto, B1 para o vigésimo sétimo, continuando até A2 para o quinquagésimo primeiro, etc. Em suma, o 2022 UQ1 foi o quadragésimo primeiro objeto do sistema solar descoberto nessa quinzena, tendo sido descoberto por Larry Denneau, do Instituto de Astrofísica da Universidade do Hawaii, e colegas, nas imagens tiradas por um telescópio de 50 cm do sistema ATLAS —“Último Sistema de Alerta de Impactos de Asteroides com a Terra” —, no Chile, e confirmado por outros três telescópios. Só neste ano já se descobriram cerca de 19000 novos objetos.
No dia 20, Bill Gray e Davide Farnocchia, concluem que afinal esse aparentemente novo NEO (acrónimo para objeto próximo da Terra) era nada mais nada menos que o segundo andar do foguetão da missão espacial Lucy, que ainda vagueia pelo espaço. Lançada em 2021, a missão Lucy vai estudar, até 2033, oito objetos na Cintura de Asteróides e sete Troianos de Júpiter, uma família de pequenos corpos do sistema solar que orbitam o sol essencialmente na mesma órbita do planeta Júpiter, mas cerca de 60 graus à frente deste, ou 60 graus atrás, se medirmos a órbita como 360 graus em torno do sol. Esta foi a primeira vez que se confundiu um pedaço de lixo espacial com um asteróide. Por definição, qualquer corpo artificial no espaço que já não tenha um propósito útil é considerado lixo espacial. Desde o lançamento do famoso Sputnik em 1957, já realizámos mais de 6000 lançamentos. Todos eles deixam algum lixo. A maior parte volta a reentrar na nossa atmosfera, consumindo-se sem chegar ao solo, tal como as estrelas cadentes. No entanto, muitos são os pedaços que continuam a orbitar a Terra, a velocidades de vários quilómetros por segundo, tornando-se verdadeiras balas para tudo o que encontrarem no seu caminho. Seguimos atentamente a órbita de mais de 32000 pedaços de lixo espacial. Porém, há pelo menos 36000 objectos com mais de 10 cm de diâmetro em órbita, e não sabemos onde estão todos, para não falar nos cerca de 1000000 de objetos de 1 a 10 cm que ainda menos sabemos por onde andam.
Estando a humanidade, hoje, tão dependentes do bom funcionamento de tecnologia no espaço, o lixo espacial é cada vez mais uma área de estudo emergente e urgente para que possamos evitar colisões com satélites ou mesmo com missões espaciais tripuladas.

QOSHE - O lixo já se confunde com os astros! - Nuno Peixinho
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O lixo já se confunde com os astros!

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17.11.2022

No dia 18 de outubro, foi descoberto um novo objecto no sistema solar, passando a 9100 km da Terra, recebendo a designação provisória de 2022 UQ1. O número 2022 indica o ano da descoberta. A primeira letra, U, refere-se à vigésima quinzena do ano, ou seja, a quinzena de 16 a 31 de outubro — a primeira letra vai de A até Y saltando a letra I. A segunda letra e o índice numérico refere-se ao número de ordem do objeto nas descobertas dessa quinzena. Ou seja, o primeiro seria A, o segundo B, continuando até ao Z para o vigésimo quinto (pois também se salta a letra I), passando depois a A1 para o vigésimo sexto, B1 para o vigésimo sétimo, continuando até A2 para o quinquagésimo primeiro, etc. Em suma, o........

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