Foi Natal!…
Celebrado por muitos segundo as suas tradições, as suas convicções, as suas crenças religiosas, com abundância por uns e carências por outros, com alegria e fé num mundo melhor por uns ou tristeza e lágrimas por tantos outros com uma visão descrente do mundo. No mundo em que, nessa noite, estivemos todos, mas cada um com o mundo que construiu dentro de si.
Neste momento, gostava de ser uma mulher silenciosa, mas não o consigo ser. Vou despedir-me do ano 2022 dentro de um País de que tanto gosto, mas sinto uma angústia consciente quando abro os olhos e vejo o que fizeram e estão a fazer à sua beleza.
Bem sei que atravessamos uma crise mundial, que essa crise é transversal e abrange todos os países. Mas dizer que no meu País o nível de pobreza atinge quatro milhões de portugueses e ao mesmo tempo ouvir afirmar que a austeridade foi embora e, logo a seguir, ver distribuir esmolas de 240€ aos “mais vulneráveis” que são calculados, pelos próprios governantes, como de um milhão de portugueses… obriga a perguntar: Afinal onde estão ou qual é a vantagem das tão apregoadas “contas certas”?
Porque correu tudo tão mal em 2022? Não venham sempre com o COVID, com a Guerra, com a crise energética … Digam-me mas é o que se passa realmente no nosso País! Digam-me claramente quais são as causas que impedem o desenvolvimento do nosso País? Digam-me porque é que estamos no último pelotão de quatro ou cinco países mais atrasados da Europa? E digam-me o que estão a pensar fazer (pelo menos o que estão a pensar fazer) para sair disto? Digam-me onde está a transparência neste País?
O SNS já não é um caso, mas um facto consumado de incompetência! Os Serviços de Obstetrícia e Ginecologia fecham e abrem como portas de vai-vem, os Serviços de Urgência são salas-de-estar de horas e horas, o IPO e os Serviços de Cardiologia são locais de desespero para lá chegar.
Depois, agora, dizem que não se está a conseguir contratar médicos … e que se estão a reformar ou a emigrar muitos médicos!… Mas, durante estes anos todos ninguém deu conta de que isso ia acontecer? E que soluções ou atractivos se propuseram … ou se está a pensar propor?!
A “luta” dos professores?! Chamam-lhe já tragicomédia e o próprio Presidente da República, no meio das suas habituais “hesitações”, disse aos jornalistas que os professores têm razão por se sentirem nas condições do pelotão dos quatro ou cinco países mais atrasados da Europa!
O Ministro das Finanças diz nem pensar em fazer orçamento rectificativo para 2023 … mas nunca um Governo de maioria fez tantas remodelações governamentais em tão pouco tempo!…
Como se compreende isto? Como se compreendem os “casos e casinhos” que surgem todas as semanas?
Já parece esquecido o caso dos funcionários das forças armadas arguidos ou em prisão preventiva e da eventual culpabilidade, por inacção, do seu então Ministro, hoje Ministro dos Negócios Estrangeiros. Vai a caminho do esquecimento o caso do Secretário de Estado Adjunto para a Coordenação do Governo, anteriormente Presidente da Câmara de Caminha, acusado em “processos de favorecimento”.
Agora fica debaixo de fogo a Secretária de Estado do Tesouro, por um caso que deveria merecer esclarecimento imediato e se manteve sem qualquer esclarecimento governamental durante dois ou três dias. Acaba por ser demitida pelo respectivo Ministro, mas contém tantas incongruências … que, como noutros “casos e casinhos”, vão ficar por explicar até serem esquecidas!.. Poderá ser tudo legal, mas despedir centenas de funcionários, baixar os vencimentos de outras centenas e, depois, receber-se milhares de euros por “despedimento ou pedido de rescisão ou seja lá o que tenha sido”, custa a compreender! E, entretanto, o Governo acaba de aprovar a injecção de mais 980 milhões de euros na TAP. O meu País aparece-me de vez em quando com uma forma bizarra!
Para terminar, o Presidente da República, numa das suas habituais populares visitas (desta vez a uma das zonas afectadas pelos fogos do Verão passado), ouviu um português emigrante dizer-lhe que Ele falava bem e era educado, mas não fazia nada. E elencou a protecção dos fogos, a saúde, a educação, a justiça, terminando com a afirmação de que, lá fora, começava a ter vergonha do País que tinha.
Há um ano, o mesmo Presidente da República havia proclamado que o ano de 2022 seria um “virar de página”!…
Há dias, o Senhor Primeiro Ministro desenhou 2023 como o ano da “Paz, Solidariedade e Confiança”!.. E acrescentou: “Vamos no pelotão da frente”!…

QOSHE - Gostava de ser uma mulher silenciosa - Maria Helena Teixeira
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Gostava de ser uma mulher silenciosa

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30.12.2022

Foi Natal!…
Celebrado por muitos segundo as suas tradições, as suas convicções, as suas crenças religiosas, com abundância por uns e carências por outros, com alegria e fé num mundo melhor por uns ou tristeza e lágrimas por tantos outros com uma visão descrente do mundo. No mundo em que, nessa noite, estivemos todos, mas cada um com o mundo que construiu dentro de si.
Neste momento, gostava de ser uma mulher silenciosa, mas não o consigo ser. Vou despedir-me do ano 2022 dentro de um País de que tanto gosto, mas sinto uma angústia consciente quando abro os olhos e vejo o que fizeram e estão a fazer à sua beleza.
Bem sei que atravessamos uma crise mundial, que essa crise é transversal e abrange todos os países. Mas dizer que no meu País o nível de pobreza atinge quatro milhões de portugueses e ao mesmo tempo ouvir afirmar que a austeridade foi embora e, logo a seguir, ver distribuir esmolas de 240€ aos “mais vulneráveis” que são calculados, pelos próprios governantes, como de um milhão de portugueses… obriga a perguntar: Afinal onde estão ou qual é a vantagem das tão apregoadas “contas certas”?
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