“O Natal no tempo de Salazar” |
Estamos a menos de duas semanas do Natal, num tempo marcado pela azáfama típica dos dias que antecedem esta quadra natalícia. São dias em que o comércio está no centro das atenções, sendo a abundância e o consumismo atuais inegáveis.
Cada época tem as suas características próprias, não sendo muito adequado fazer comparações. No entanto, há momentos em que é necessário comparar épocas, para melhor compreendermos o presente. Neste sentido, tratando-se de um período muito relembrado nos últimos meses, recordarei brevemente como era o Natal no tempo do Estado Novo. Nessa época, em que a abundância escasseava, o Natal era vivido de duas formas: a fartura que existia nas casas dos grandes senhores e a miséria que proliferava na maioria dos lares portugueses.
Conscientes das enormes dificuldades que afetavam a maior parte da população portuguesa, em particular a da nossa região, os Governadores Civis de Braga promoviam algumas campanhas de recolha de alimentos, destinados à distribuição pelos “pobrezinhos”. Foi o que aconteceu no Natal de 1950, com a campanha organizada em Braga, que procurava levar o essencial aos inúmeros “lares onde a desdita projetou a sua sombra e onde a realidade da miséria se tornou um facto”, como escreveu o Padre Alberto da Rocha Martins no “Jornal de Barcelos” (23.11.1950). Acrescentava ainda: “Ninguém ignora o tormento dilacerante em que vivem muitos lares da nossa terra. E a fome, quase sempre má conselheira, impele o homem que não esteja couraçado por uma sólida formação moral para o abismo da desgraça e do crime”!
Em algumas “casas grandes” do Minho, os seus “criados”, nos dias que antecediam o Natal, ocupavam-se em construir vistosas árvores de Natal, que eram depois inauguradas perante convidados selecionados, de elevada importância social e política na região. Nesse momento, dispunham-se mesas onde a fartura das iguarias próprias da época........