Feminicídios: quando o medo mora em casa

PAULA BELMONTE, deputada distrital, segunda vice-presidente e procuradora especial da Mulher da Câmara Legislativa do DF

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Escrevo este texto com as palavras que inundaram meus pensamentos no caminho de volta para casa naquela quinta-feira. Parada no Eixo Monumental, à espera do sinal abrir, vi o reflexo das luzes do trânsito se misturar ao pôr do sol. À minha frente, o Palácio do Buriti; atrás, a pressa de quem só quer chegar em casa. No meio dos carros, uma jovem mãe se aproximou vendendo paçocas. "Boa noite! Leva uma paçoca para me ajudar com o leite da minha filha", ofereceu-me com a voz mansa. Carregava no peito uma recém-nascida linda, dormindo tranquila, envolta num pano gasto, como um filhote de canguru abrigado no corpo da mãe.

Quando nossos olhares se cruzaram, notei a mancha arroxeada no olho direito da mulher. Perguntei se estava tudo bem. Correndo contra o tempo, contra o sinal que podia abrir a qualquer momento e os carros que ainda poderiam lhe render uma venda, ela me respondeu que sim. Entregou-me um papel que explicava o porquê dela estar ali, um número de telefone e uma chave Pix. Guardei todas aquelas informações junto com uma sensação incômoda: a certeza de que não estava tudo bem.

A imagem daquela mulher me acompanhou em todo o caminho de volta para casa. Foi então que........

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