E se Jesus tivesse nascido em Gaza?

Há mais de dois mil anos, Belém era uma vila pobre submetida ao jugo do Império Romano. Soldados vigiavam ruas estreitas, censos, impostos esmagavam famílias, e o medo organizava a vida cotidiana. Foi nesse cenário de dominação e penúria que um casal deslocado, Maria e José, percorreu portas fechadas até que uma manjedoura improvisada, entre animais, se tornasse abrigo. O nascimento celebrado pelo cristianismo não ocorreu no centro do poder, mas à margem dele. Não havia lugar para eles nas estalagens — havia controle, vigilância e exclusão.

A força dessa narrativa não reside apenas na dimensão religiosa, mas na sua perturbadora atualidade. 

O Natal nasce como denúncia silenciosa: a vida insistindo em existir quando a ordem estabelecida decide que não há espaço para os frágeis. O presépio é, antes de tudo, uma cena política. Ele expõe um sistema incapaz de acolher quem não produz, quem não “serve”, quem não se encaixa no fluxo normalizado do mundo.

Hoje, a cerca de 70 quilômetros dali, Gaza........

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