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O mal-estar democrático, hoje

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06.12.2024

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“Não há, nunca houve, aqui, um povo livre, regendo seu destino na busca da própria prosperidade. [...] Nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo.”

– Darcy Ribeiro, O povo brasileiro.

A precipitação de muitos nas celebrações à “vitória das instituições” sobre os atentados do terrorismo que nos assola levou-os a deixar de lado o mínimo de reflexão sobre a tragédia do homem-bomba que, num simbolismo do qual por certo não guardou consciência, se imolou aos pés da estátua da Justiça que vigia a entrada do STF, aquele poder que, hoje, por um capricho histórico, ocupa o espaço que nas democracias é representado ora pela vigilância do Congresso (aqui, porém, comprometido com a direita e o neofascismo), ora pelo Executivo, hoje mais preocupado com o mantra do “ajuste fiscal” – que o governo originalmente comprometido com o desenvolvimento e o combate às desigualdades assimilou por não ter forças, políticas e ideológicas, para enfrentar a pressão desencadeada pelo financismo predador da produção e do desenvolvimento social.

Essa superficialidade de análise, ou desatenção, impediu mesmo bons cronistas de ver no gesto do fanático um sintoma da intoxicação doutrinária de toda a vida a que foi e é submetida grande parte de nossa população, desde que a dita grande imprensa e setores ponderáveis das forças armadas abraçaram o projeto de tomada do poder pela direita, dominando corações e mentes. Avanço reacionário que não encontra a resistência orgânica ou ideológica das nossas várias esquerdas, conquistadas pela ordem.

Esta é, sem dúvida, a questão central. Há um largo espectro de razões a ser invocado, razões que transitam do desamparo das utopias e da falência de organizações e partidos revolucionários à adesão das esquerdas, sem crítica, ao modo conservador de fazer política. Isso implicou tanto a renúncia a programa especifico, próprio, alternativo ao capitalismo e ao statu quo, quanto o grave abandono do campo da luta ideológica, donde o recesso da militância.

A direita reanimada e a esquerda encantada se confundiram no amor igual ao poder.

Voltando: o essencial no episódio da Praça dos Três Poderes não é seu autor material, mero títere insuflado por uma cantilena que não compreendeu, pois falava contra seus interesses de vida e classe. O homem-bomba do dia 13/11 deve ser visto como triste vítima da doutrinação da direita, levada a extremos pelo discurso neofascista, impune, e estimulada pela indisciplina militar, vista como guarda de segurança para desatinos, a exemplo da protegida ocupação de quartéis, antessala da infâmia de 8 de janeiro de 2023.

A arte dos atentados está na essência do fascismo civil e militar, uma das modalidades da loucura........

© Brasil 247


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