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O esforço do governo Lula para promover o retorno da usina de Mataripe ao controle da Petrobras marca um passo relevante numa história que merece uma reflexão cuidadosa.

A privatização de Mataripe, vendida por 1,6 bilhão de dólares quando o mercado indicava 3 bi, mostra o fundo do poço em que as instituições brasileiras foram colocados na ultima década e meia, marcada pelo golpe contra Dilma, a prisão de Lula e demais lances sinistros de um retrocesso histórico.

Chama a atenção, ainda, uma improvisada maquiagem de nossa memória política, a destinada a encobrir fatos especialmente relevantes.

Na inauguração, em 1953, a usina foi batizada como Landulfo Alves de Mataripe, numa homenagem merecida ao lider nacionalista que elaborou a lei 2.004, mais conhecida como Lei do Petróleo, que Getúlio Vargas assinou em 3 de outubro de 1954, que fundou a Petrobras e instituiu o monopólio sobre reservas e refino.

Os benefícios assegurados pela lei 2004 são conhecidos e ajudam a explicar o padrão peculiar assumido pelo desenvolvimento industrial brasileiro na segunda metade do século XX. Mesmo conservando elementos arcaicos de uma herança de origem colonial, a começar por uma desigualdade social profunda e persistente, o Brasil abrigou um processo modernizante e relativamente sofisticado de industrialização, que marcou diferenças notáveis em comparação com países com formação histórica comparável, mas incapazes de superar anacronismos de uma ordem socialmente primitiva.

Ao lado de outras iniciativas do mesmo período histórico, como a Companhia Siderurgica Nacional, a Consolidação das Leis do Trabalho, CLT, a criação da Petrobras foi uma referência fundamental de mudança e de construção de um projeto de desenvolvimento autônomo, elaborado a partir da década de 1930.
Como repórter do Brasil 247, em 2017 acompanhei o esforço de Lula -- fora da presidência -- para denunciar a entrega de Mataripe aos gaviões do imperialismo, que, depois do golpe parlamentar contra Dilma, passaram a sobrevoar nossas riquezas em busca de lucro fácil.

"Num país onde todos se queixam de apatia do eleitor, a caravana de Lula pelo Nordeste mostra uma situação muito diferente", escrevi quando me encontrava em Currais Novos, cidade no semi árido com 45 000 habitantes, no Rio Grande do Norte (28/10/2017).

Num ambiente onde a mobilização popular era tão intensa que assumia o caráter de festa, os organizadores chegavam a ter dificuldade para organizar o comportamento de homens e mulheres da região, que vestiram sua melhor roupa para receber um ex-presidente da República já ameaçado pelas forças golpistas que iriam mandá-lo para uma cela de Curitiba.

Impacientes pela espera no sol à pino, com receio de um contratempo que impedisse uma simples parada de poucos minutos e o contato direto com Lula, a população de cidades menores rompia as normas de segurança para invadir a estrada, obrigando a serpentina de ônibus a fazer uma parada improvisada para permitir que a população fizesse sua homenagem, numa cena que ficou na memória de todos -- inclusive na minha -- até hoje.

“Se Lula for condenado, vai haver guerra”, me disse Antônio Ednilo Costa, 72 anos, presente ao ato público em defesa de Lula que reuniu perto de 30 000 pessoas, terça-feira passada, no centro de Quixadá, no Ceará. "O povo está sacando muito bem o que está acontecendo", acrescentou (1/9/2017).

Nesse ambiente de festa e luta, que a caravana atravessou 9 Estados do Nordeste, até o ponto de chegada, num imenso comício em São Luiz do Maranhão, sob comando de Flávio Dino, então governador do Estado, que organizou uma comemoração de acordo o visitante -- imensa, combativa e animada. Nem é preciso lembrar o que ocorreu nos anos seguintes.

Numa encenação macabra que envergonha a democracia, Eduardo Cunha comandou o golpe contra Dilma Rousseff. Numa sequência do mesmo espetáculo sinistro, um ano depois o STF negou os direitos constitucionais de Lula, enviado a uma cela em Curitiba.

Confirmando uma observação do agricultor cearense, 72 anos na época, ao 247 ("o povo está sacando muito bem o que está acontecendo"), assim que tiveram oportunidade os brasileiros e brasileiras foram às urnas para colocar Lula em seu devido lugar, a presidência. E é de lá que, sete anos depois, o presidente inicia uma luta para reconstruir um patrimônio -- econômico, político e também cultural -- que nenhum povo pode esquecer. Mataripe ocupa um lugar de honra nesse passado.
Alguma dúvida?

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Ao recuperar usina de Mataripe, Lula saúda o povo e honra Getúlio

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18.02.2024

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O esforço do governo Lula para promover o retorno da usina de Mataripe ao controle da Petrobras marca um passo relevante numa história que merece uma reflexão cuidadosa.

A privatização de Mataripe, vendida por 1,6 bilhão de dólares quando o mercado indicava 3 bi, mostra o fundo do poço em que as instituições brasileiras foram colocados na ultima década e meia, marcada pelo golpe contra Dilma, a prisão de Lula e demais lances sinistros de um retrocesso histórico.

Chama a atenção, ainda, uma improvisada maquiagem de nossa memória política, a destinada a encobrir fatos especialmente relevantes.

Na inauguração, em 1953, a usina foi batizada como Landulfo Alves de Mataripe, numa homenagem merecida ao lider nacionalista que elaborou a lei 2.004, mais conhecida como Lei do Petróleo, que Getúlio Vargas assinou em 3 de outubro de 1954, que fundou a Petrobras e instituiu o monopólio sobre reservas e refino.

Os benefícios assegurados pela lei 2004 são conhecidos e ajudam a explicar o padrão peculiar assumido pelo desenvolvimento industrial brasileiro na segunda metade do século XX. Mesmo conservando........

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