Geopolítica, extrema direita e a crise da ordem internacional |
O ano de 2025 se encerra sem síntese e sem alívio. Não há resoluções, apenas adiamentos; não há estabilidade, apenas contenção provisória do caos. O mundo chega ao fim do ano em estado de suspensão permanente, marcado por conflitos não resolvidos, instituições enfraquecidas e uma reorganização profunda e perigosa do poder global. A ilusão de normalidade é mantida à custa de exceções contínuas. O sistema internacional já não funciona como ordem: funciona como improvisação.
O avanço das direitas radicais e autoritárias consolida-se como um dos traços mais inquietantes de 2025. Trata-se de um fenômeno global, com variações nacionais, mas com um núcleo comum: desprezo pelas instituições democráticas, ataque sistemático à imprensa, às universidades e à ciência, criminalização de minorias e recusa explícita do pluralismo político.
Na América do Sul, esse movimento assume contornos particularmente regressivos. A experiência argentina sob Javier Milei, o avanço da extrema direita no Chile, a persistência do bolsonarismo no Brasil e a instabilidade política crônica em outros países da região revelam uma direita que já não busca governar dentro da democracia liberal, mas tensioná-la até seus limites. Explora frustrações reais — estagnação, insegurança, desigualdade —, mas oferece como resposta o autoritarismo, o desmonte do Estado e a submissão irrestrita ao mercado financeiro.
Não há projeto nacional nem estratégia de desenvolvimento.
Os grandes conflitos de 2025 não caminham para a paz; caminham para a normalização. A guerra na Ucrânia permanece num impasse destrutivo, sustentado por cálculos geopolíticos que já pouco dialogam com qualquer horizonte de reconstrução. O Oriente Médio segue em combustão lenta, com crises humanitárias recorrentes, direito internacional seletivo e a banalização da morte civil de populações inteiras.
O traço comum é claro: os conflitos não são resolvidos porque resolvê-los exigiria mediação, instituições eficazes e compromisso político internacional — exatamente o que falta. A guerra torna-se administrável, e o sofrimento, estatística.
O retorno de Donald Trump à Casa Branca acelera o declínio qualitativo da hegemonia norte-americana. Os Estados Unidos seguem sendo uma potência central, mas já não exercem liderança estabilizadora. O unilateralismo, o desprezo por alianças históricas, o ataque a organismos multilaterais e a instrumentalização da política externa para consumo doméstico corroem a credibilidade........