Da Fábrica do Mundo ao Mercado Interno |
A virada estratégica do modelo chinês de desenvolvimento
A decisão chinesa de colocar a expansão da demanda doméstica no centro de sua estratégia de desenvolvimento não surge do nada nem responde apenas às dificuldades conjunturais recentes. Ela é o resultado de uma evolução histórica do modelo econômico chinês, marcada por sucessos extraordinários, limites estruturais crescentes e transformações profundas no ambiente internacional. O editorial do China Daily (16/12), ao ecoar o artigo de Xi Jinping publicado na Qiushi, ajuda a compreender o modelo atual, mas ele só se revela plenamente quando contrastado com o modelo anterior e com as razões que tornaram inevitável a mudança.
O modelo exportador e investidor que moldou a China contemporânea
Durante cerca de quatro décadas, especialmente entre os anos 1990 e meados da década de 2010, a China seguiu um modelo de crescimento baseado em exportações, investimento pesado e rápida industrialização. Esse modelo apoiou-se em alguns pilares bem definidos: abundância de mão de obra, salários relativamente baixos, forte capacidade estatal de planejamento, investimentos maciços em infraestrutura e uma inserção estratégica nas cadeias globais de valor.
A adesão à OMC, em 2001, consolidou esse caminho. A China tornou-se a “fábrica do mundo”, acumulando superávits comerciais expressivos, reservas internacionais gigantescas e taxas de crescimento sem precedentes na história econômica moderna.
Esse modelo cumpriu um papel histórico decisivo. Ele permitiu retirar centenas de milhões de pessoas da pobreza, construir uma base industrial completa, urbanizar o país em ritmo acelerado e criar capacidades tecnológicas e produtivas que hoje colocam a China na fronteira de setores como energia renovável, telecomunicações, transporte ferroviário, inteligência artificial e manufatura avançada. No entanto, justamente por seu sucesso, o modelo começou a........