As minorias existem, contam e podem crescer; e estes novos espaços criam uma oferta diferente e formam novos públicos, atraindo também viajantes e turistas.

Da curta e proveitosa jornada de férias pelo norte de Portugal e Galiza surge esta reflexão. Passando por Castelo Branco, passeámos pela cidade e fomos conhecer o Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco (CCCCB), tutelado pela Câmara Municipal, pretende promover e divulgar a cultura contemporânea, estimular a criação artística, trabalhar a criação e formação de novos públicos.

O CCCCB está instalado num edifício da autoria do arquiteto catalão Josep Lluis Mateo, em colaboração com o arquiteto português Carlos Reis de Figueiredo, e localiza-se bem no centro da cidade, local de encontro e lazer, nas imediações de outros equipamentos culturais, como o Cine-Teatro Avenida e a Biblioteca Municipal.

Com uma arquitetura ousada, o espaço tem uma exposição de peças artísticas da coleção de arte contemporânea do Estado português, abarcando alguns dos nomes mais significativos.

Muito agradável de percorrer, funcional, com cafetaria e uma ampla janela rasgada para a praça da Devesa (as docas da terra, como nos disse o simpático e muito bem informado jovem da receção), naquela tarde de Agosto apenas nós visitávamos o local. Contrastando com a imensa maré de gente que acorria a ver a passagem da Volta a Portugal.

Mais a norte, em Chaves, depois de visitarmos as termas romanas de Aqua Flavie, um dos mais bem conservados complexos de banhos do império romano, muito concorrido de visitantes, avançamos um pouco mais, em direção ao museu de arte contemporânea Nadir Afonso.

A mesma constatação, quase ninguém. Nós, um outro casal também acompanhado pela filha, duas turistas espanholas e uma família francesa. Outro magnífico espaço, projeto do arquiteto Siza Vieira e local de acolhimento de parte da obra de Nadir Afonso, nome maior da arte moderna e natural da cidade.

Museu Nadir Afonso, Chaves.

Aí, percorremos a exposição Os lugares de Nadir, que dá a ver as cidades visitadas e imaginadas, através de dezenas de pinturas, estudos e material documental. As viagens levaram o artista a conhecer uma grande parte do mundo, muitas vezes levado pelo impulso de uma conversa, uma leitura, outras por necessidades de trabalho e aprendizagem. Nadir Afonso (1920 – 2013) foi também arquiteto – trabalhou nos ateliês de Le Corbusier e Óscar Niemeyer – abandonando a arquitetura em 1965 para se dedicar apenas à pintura. A outra exposição patente era de Pedro Calapez, Deste espaço luminoso e obscuro.

Seguiu-se Vigo e Santiago de Compostela, cidades também dotadas de atraentes espaços/museus de arte contemporânea, não querendo ser exaustivo cito apenas a Cidade da Cultura, no monte Gaiás, sobranceiro à cidade de Santiago, projetado pelo nova iorquino Peter Eisenman. Também pouco frequentado.

No regresso, paragem de uma noite e um dia em Guimarães. A cidade berço, com seu centro histórico, património da humanidade, muito bem conservado na sua traça medieval de ruas, ruelas e arcadas, aliado à esmerada conservação da arquitetura singela, mas rica em pormenores, de épocas posteriores, é hoje também mais atrativa e procurada pelo que oferece de novo, desenvolvimento este que teve um impulso urbano vital com a realização da Capital Europeia da Cultura em 2012.

Gaiás, Arte Contemporânea, Santiago de Compostela.

É atualmente uma das três finalistas a Capital Europeia Verde em 2025 juntamente com Graz (Áustria) e Vilnius (Lituânia).

Aqui, evidentemente, fomos conhecer o Centro Internacional das Artes de José de Guimarães, o qual acolhe nos seus amplos espaços expositivos não só a obra do artista, mas também a sua riquíssima e deslumbrante coleção de arte africana. Misturando a modernidade criativa, pessoal, com a ancestralidade de formas de arte que dão expressão à magia e a rituais culturais que ligam natureza e sobrenatural.

Mas para quê enumerar estes centros e museus de arte contemporânea visitados? E ainda por cima sublinhar a pouca afluência!?… Precisamente, por paradoxal que pareça, para justificar a sua necessidade e o papel ímpar que desempenham nas dinâmicas urbanas e culturais das cidades e até das regiões em que se inserem.

Não têm uma afluência massiva, sem dúvida, se compararmos com outros polos de interesse monumental, cultural e turístico. Haverá sempre mais gente a subir às muralhas e torres dos castelos de Chaves ou Guimarães. Mas as minorias existem, contam e podem crescer; e estes novos espaços criam uma oferta diferente e formam novos públicos, atraindo também viajantes e turistas.

Centro Galego de Arte Contemporânea, Santiago de Compostela.

Todos eles dispõem de serviços educativos que permitem o contacto e a aprendizagem, desde tenra idade, contribuindo para a formação humanística e escolar, no trabalho que desenvolvem em colaboração com o sistema educativo.

Não têm, na maioria dos casos, apenas como objetivos a programação regular de exposições de artes plásticas e visuais, mas igualmente acolhem nos seus auditórios e espaço físico as artes performativas, a música, colaborando muitas vezes com associações e companhias de dança, teatro, etc.

O génio e a ousadia criativa dos projetos de arquitetura e engenharia, génese e embrião edificado destes centros de arte e cultura contemporâneas, são constituintes de uma mais valia no tecido urbano e social, gerando novas centralidades e áreas de convivência cívica.
Posto isto, Faro, Faro, do que é que estás à espera?…

Paulo Penisga | Professor

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Dos centros de arte contemporânea (e da razão de existirem)

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15.09.2023

As minorias existem, contam e podem crescer; e estes novos espaços criam uma oferta diferente e formam novos públicos, atraindo também viajantes e turistas.

Da curta e proveitosa jornada de férias pelo norte de Portugal e Galiza surge esta reflexão. Passando por Castelo Branco, passeámos pela cidade e fomos conhecer o Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco (CCCCB), tutelado pela Câmara Municipal, pretende promover e divulgar a cultura contemporânea, estimular a criação artística, trabalhar a criação e formação de novos públicos.

O CCCCB está instalado num edifício da autoria do arquiteto catalão Josep Lluis Mateo, em colaboração com o arquiteto português Carlos Reis de Figueiredo, e localiza-se bem no centro da cidade, local de encontro e lazer, nas imediações de outros equipamentos culturais, como o Cine-Teatro Avenida e a Biblioteca Municipal.

Com uma arquitetura ousada, o espaço tem uma exposição de peças artísticas da coleção de arte contemporânea do Estado português, abarcando alguns dos nomes mais significativos.

Muito agradável de percorrer, funcional, com cafetaria e uma ampla janela rasgada para a praça da Devesa (as docas da terra, como nos disse o simpático e muito bem informado jovem da receção), naquela tarde de Agosto apenas nós visitávamos o local. Contrastando com a imensa maré de gente que acorria a ver a passagem da Volta a Portugal.

Mais a norte, em Chaves,........

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