O PRR é uma oportunidade de ouro para a transformação económica e social do Algarve. Mas, para aproveitar o PRR, é preciso, como disse, uma estratégia integrada de desenvolvimento.

O Algarve é uma região com características muito específicas. Trata-se de um território com flagrantes debilidades socioeconómicas, mas que, em paralelo, apresenta excelentes oportunidades de investimento, crescimento e empreendedorismo.

São conhecidos os desequilíbrios do modelo de desenvolvimento da região. Abençoado pela natureza e pelo clima, o Algarve viu o setor turístico crescer de forma exponencial, enquanto se acentuava o desinvestimento noutros sectores. A agricultura e pescas, a indústria transformadora ou os setores de especialização inteligente estão, por isso, muito aquém do peso económico do turismo na região.

Em virtude deste monolitismo setorial, o Algarve encontra-se muito dependente das receitas do turismo e existe uma forte sazonalidade do emprego, uma fraca oferta de habitação a preços acessíveis, uma notória incapacidade de fixar recursos qualificados e uma tendência para o despovoamento das zonas interiores da região.

Mas o Algarve é, por outro lado, um território de grandes potencialidades económicas, tendo, aliás, convergido com as regiões mais ricas da Europa, mesmo sem acesso aos fundos de coesão. A região dispõe, portanto, de condições endógenas para diversificar as suas atividades e, assim, corrigir os desequilíbrios do seu paradigma de desenvolvimento e adotar modelos de negócio mais inovadores.

Lembro, a propósito, que o Algarve tem projeção internacional, bons contactos com o exterior, comunidades com elevado poder de compra, centros de conhecimento e inovação e qualidade de vida. Neste sentido, a região está preparada para responder às atuais exigências de competitividade económica e aos desafios da transição digital, energética e climática.

O que falha, então, para que o Algarve não possua uma atividade económica mais diversificada e de maior valor acrescentado?

A resposta está, a meu ver, na ausência de uma estratégia regional integrada, sob a qual se articulem políticas públicas orientadas para a atração de talento, recursos críticos e investimento qualificado e estruturante.

Uma estratégia integrada para o desenvolvimento do Algarve deve, naturalmente, ter em conta a agenda económica da União Europeia (transformação digital e inteligência artificial, I&D, descarbonização económica, sustentabilidade ambiental, transição energética, etc.) e os incentivos à atividade empresarial no âmbito dos novos fundos comunitários, sobretudo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Importa, pois, que a região tenha capacidade para apresentar candidaturas competitivas aos incentivos e para executar investimentos em áreas críticas para o seu futuro.

Esta necessidade de uma estratégia regional integrada é ainda mais óbvia se pensarmos quer no devastador impacto da pandemia na região, quer nos atuais efeitos da guerra na Ucrânia. O Algarve está ainda a recuperar das restrições que a crise pandémica impôs ao setor turístico e enfrenta, por outro lado, os efeitos da diminuição do poder de compra resultante da crise inflacionista.

Recordo ainda que o Algarve se encontra, desde 2007, em phasing out do chamado Objetivo de Convergência da União Europeia, uma vez que alcançou um PIB per capita acima dos 75 por cento da média comunitária.

Por isso, a região quase não teve acesso a fundos de coesão há mais de uma década. Agora, as empresas, entidades públicas e instituições do Algarve têm a oportunidade de alavancar projetos mais disruptivos com dinheiros do PRR, que não integra as políticas de coesão.

O que se pretende é que a economia do Algarve evolua para uma especialização inteligente, de forma que a região seja competitiva, não apenas pelo sol e praia, mas também por oferecer produtos, serviços e soluções mais sofisticados.

Neste pressuposto, a Universidade do Algarve (UAlg) e suas unidades de investigação são determinantes para a qualificação da economia local, através quer da formação de potencial humano, quer da prestação de serviços de inovação às empresas, da transferência de tecnologia e da criação de spinoffs.

O PRR é uma oportunidade de ouro para a transformação económica e social do Algarve. Tanto mais que a região continuará, muito provavelmente, a não ter acesso aos fundos de coesão do Portugal 2030, por estar acima dos 75 por cento do PIB médio per capita da União Europeia.

Mas, para aproveitar o PRR, é preciso, como disse, uma estratégia integrada de desenvolvimento. Estratégia, essa, a partir da qual se criem melhores condições para o investimento, se mobilizem os parceiros da região (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, autarquias, instituições públicas e privadas, associações empresariais, etc.), se invista na formação de potencial humano e na capacitação do tecido empresarial e se reforcem as sinergias entre a UAlg e as empresas.

Hugo Vieira | Vice-presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE)

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Algarve precisa de estratégia para o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)

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20.08.2023

O PRR é uma oportunidade de ouro para a transformação económica e social do Algarve. Mas, para aproveitar o PRR, é preciso, como disse, uma estratégia integrada de desenvolvimento.

O Algarve é uma região com características muito específicas. Trata-se de um território com flagrantes debilidades socioeconómicas, mas que, em paralelo, apresenta excelentes oportunidades de investimento, crescimento e empreendedorismo.

São conhecidos os desequilíbrios do modelo de desenvolvimento da região. Abençoado pela natureza e pelo clima, o Algarve viu o setor turístico crescer de forma exponencial, enquanto se acentuava o desinvestimento noutros sectores. A agricultura e pescas, a indústria transformadora ou os setores de especialização inteligente estão, por isso, muito aquém do peso económico do turismo na região.

Em virtude deste monolitismo setorial, o Algarve encontra-se muito dependente das receitas do turismo e existe uma forte sazonalidade do emprego, uma fraca oferta de habitação a preços acessíveis, uma notória incapacidade de fixar recursos qualificados e uma tendência para o despovoamento das zonas interiores da região.

Mas o Algarve é, por outro lado, um território de grandes potencialidades económicas, tendo, aliás, convergido com as regiões mais ricas da Europa, mesmo sem acesso aos fundos de........

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