Amigos, tenham juízo!

É nesta altura que se pedem desejos. Olha-se para o ano que aí vem e espera-se que seja sempre muito melhor do que aquele de que nos despedimos às janelas e varandas, enquanto batemos quase enlouquecidos em tachos e panelas, após engolirmos dozes passas mastigadas à pressa e despejarmos umas flutes de espumante. Queremos afugentar todas as amarguras que nos trouxe para bem longe de nós, a fim de o futuro imediato se instale, comodamente, à frente do nosso caminho, escrito a cor de rosa, cheio de unicórnios e construções de açúçar e algodão-doce. Somos pueris a esse ponto. Ingénuos. Nem os santos levam vida santa, bem pelo contrário. Foram mártires antes de ascenderem, hoje os que os veneram martirizam-nos com pedidos de tudo e mais alguma coisa. Até pelo resultado de um jogo. Um caneco qualquer. Ainda que seja outra realmente a religião que professam. E já foi o tempo em que erguíamos mosteiros que demoravam literalmente séculos a levantar para agradecer a Santa Maria da Vitória.

O desporto e o seu rei futebol, da nossa perspetiva desde o ponto mais ocidental da Europa, são, disse-o Arrigo Sacchi, o melhor treinador-sapateiro da história do jogo e reinventor do totaalvoetbal neerlandês, em versão rossonera, «a coisa mais importante das menos importantes da vida». Tinha razão. Também poderia ser a menos importante das mais importantes, que quereria dizer praticamente o mesmo. Porque todos sabemos que a vida continuará na mesma sem que o tenhamos connosco, mas nunca será a mesma coisa. E talvez nem seja bem vida. Não........

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