Primeiro era apenas o projeto de um homem só, a quem ninguém deu importância até ele ser eleito. Um dissidente do PSD que, tal como outros dissidentes de partidos de diretora e esquerda, não ia a lado nenhum. Depois de eleito, também não incomodava ninguém, era o tal homem só, e como ele havia outros deputados únicos no parlamento. Ainda lhe quiseram fazer um cordão sanitário de acesso ao hemiciclo, porque nem se queriam cruzar com ele no corredor. Tratava se de um grilo falante que ninguém quer escutar, mesmo quando a consciência do grilo está, por vezes, certa.
Depois veio a maioria absoluta e o homem já não estava sozinho, era líder do terceiro partido com mais votos no país. E, finalmente, começaram a levá-lo a sério. Tarde demais. As sondagens, a que todos dão demasiada importância - apesar de dizerem que não têm importância nenhuma - foram avisando consistentemente para a subida do partido de um homem só.
Agora, que se tornou impossível ignorar o elefante dentro do parlamento, a narrativa é contra o programa e a ideologia do partido, mas sempre em defesa dos eleitores dele. Sim, porque neste sistema democrático, que é o pior sistema à exceção de todos os outros, os eleitores zangados, desiludidos, cansados, ignorados e esquecidos, estes eleitores andam há 50 anos à espera de amanhãs que cantam e esses dias nunca mais chegam.
Chega, terão pensado eleitores de todos os partidos que confluíram com votos para o pastor evangélico, para o messias que diz ter a resposta para todos os problemas.

Quase quase nos 50 anos de democracia, há muitos, muitos milhares, senão mais, que ficaram para trás. São sempre os mesmos, os que vão às quatro da manhã para a fila do centro de saúde, os que são pobres mesmo trabalhando, os que acabam a pedir comida nas instituições públicas e, sobretudo, nas privadas e voluntárias. Os que ficam fora do discurso político, porque nem sequer entendem "o que eles dizem".
É a estes eleitores e a muitos que tinham desistido de votar que já não chegam apenas palavras de circunstância e uma caneta na campanha eleitoral. O país mudou, tornou se mais reivindicativo e mais informado, mais exigente e menos tolerante.
Nas próximas eleições, todos os partidos vão à procura destes eleitores. Talvez cheguem tarde. Talvez alguém tenha Chega(do) primeiro e os tenha conquistado. Cada voto no chega é o reconhecimento do falhanço dos outros partidos todos. Os que são democráticos de verdade e os que se dizem democráticos mas, por serem de esquerda, são revolucionários.
Revolução só há uma e foi há 50 anos. Pode ser que, desta vez, os partidos tenham percebido que chegou a hora das pessoas. E que isso não seja apenas um slogan para os cartazes, mas um compromisso de mudança, de futuro e de progresso. Março está a caminho.

QOSHE - Chega p'ra lá - Pedro Cruz
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Chega p'ra lá

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21.11.2023

Primeiro era apenas o projeto de um homem só, a quem ninguém deu importância até ele ser eleito. Um dissidente do PSD que, tal como outros dissidentes de partidos de diretora e esquerda, não ia a lado nenhum. Depois de eleito, também não incomodava ninguém, era o tal homem só, e como ele havia outros deputados únicos no parlamento. Ainda lhe quiseram fazer um cordão sanitário de acesso ao hemiciclo, porque nem se queriam cruzar com ele no corredor. Tratava se de um grilo falante que ninguém quer escutar, mesmo quando a consciência do grilo está, por vezes, certa.
Depois veio a maioria absoluta e o homem já não estava sozinho, era líder do terceiro partido com mais votos no país. E,........

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