No ano que agora começa, meio mundo, literalmente metade do mundo, é chamado a votar. Bem sabemos que a democracia é o pior de todos os regimes, à exceção de todos os outros. Este ano, entre eleições municipais, regionais, europeias, legislativas e presidenciais, os povos das mais variadas latitudes são chamados a decidir, seja em democracias plenas e consolidadas, seja noutras mais musculadas, em construção ou em vias de desenvolvimento. Mais importante do que o estado das diversas democracias, importa que o sejam - democracias. Mesmo as mais imperfeitas dão-nos mais garantias do que regimes ditatoriais, absolutos ou “hereditários”, onde o poder passa de pais para filhos, sem direito a oposição, escolha ou contraditório.

E é na solidão da cabine de voto que cada eleitor, seja de que latitude for, com a ponta da caneta, decide o caminho que quer. Não há maior liberdade do que esta, ter o poder da escolha na mão.

Em Portugal, este ano, há três eleições. Começam nos Açores, onde a “barafunda” à direita não segurou um governo minoritário. Daqui, neste ano tão especial, podem surgir indicadores para as legislativas de março. Por norma, das regionais não saem leituras nacionais, mas a forma como a legislatura foi interrompida e o que está em jogo nas escolhas que forem feitas pode dar postas para o que, um mês depois, pode acontecer no todo nacional.

A dez de março, os portugueses são chamados, outra vez, a escolher um governo. A maioria dos eleitores, porém, vai às urnas contrariado. Porque há dois anos, precisamente, foi chamado a escolher e deu a maioria absoluta a um só partido. O que os portugueses disseram era claro. Queriam estabilidade e previsibilidade, quatro anos sem casos nem casinhos, sem demissões nem convulsos, sem processos judiciais nem lutas políticas. A carta de alforria que o eleitorado passou ao PS acabou letra morta.

Neste março de 2024, os portugueses que se dão ao trabalho de participar na democracia terão, mais uma vez, diversas escolhas. Importa perceber, antes de mais, que bloco ideológico terá mais mandatos. 2015 ensinou-nos que para governar não é preciso ganhar eleições. Depois, será importante perceber até onde chega o Chega e se que forma a extrema-direita se torna indispensável para qualquer solução de governabilidade.
Por fim, Marcelo.

Até março, o presidente pode esconder-se, com a narrativa de que este não é o seu tempo.
O tempo de Marcelo chega a 10 de março. Diante dos resultados, analisando a situação, Marcelo tem de perceber se fez bem em dissolver o parlamento e se, com essa ação, tornou mais clara a situação. Ou não.
Eu, por mim, prefiro sempre eleições a pântanos, clarificação a paz podre, devolver a palavra aos eleitores em vez de decidir por eles.

Na ponta da caneta está a arma de que os portugueses dispõe. Veremos como decidem usá-la e se, com isso, em 2024, as legislativas e as europeias não serão ao últimas eleições.

QOSHE - 2024 - a caneta é uma arma - Pedro Cruz
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2024 - a caneta é uma arma

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10.01.2024

No ano que agora começa, meio mundo, literalmente metade do mundo, é chamado a votar. Bem sabemos que a democracia é o pior de todos os regimes, à exceção de todos os outros. Este ano, entre eleições municipais, regionais, europeias, legislativas e presidenciais, os povos das mais variadas latitudes são chamados a decidir, seja em democracias plenas e consolidadas, seja noutras mais musculadas, em construção ou em vias de desenvolvimento. Mais importante do que o estado das diversas democracias, importa que o sejam - democracias. Mesmo as mais imperfeitas dão-nos mais garantias do que regimes ditatoriais, absolutos ou “hereditários”, onde o poder passa de pais para filhos, sem direito a oposição, escolha ou contraditório.

E........

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