Esta quarta-feira, dia em que o nono e último Orçamento do Estado de António Costa foi aprovado na Assembleia da República, representa o fim de uma etapa para o primeiro-ministro e constituiu, ao mesmo tempo, um exemplo paradigmático daquilo que serão os próximos quatro meses até às eleições. O guião está traçado.

O PS acusa o PSD de querer imitar o Chega, avisando que os portugueses “preferem sempre o original à cópia”, ao mesmo tempo que não esquece os anos de Pedro Passos Coelho e da austeridade da troika para bater na tecla de que ninguém se poderá fiar na guinada aparentemente mais ao centro de Luís Montenegro (com a promessa de aumento do Complemento Solidário para Idosos, por exemplo).

O PSD, por seu lado, recupera para o centro do debate político os envelopes com dinheiro na sala de trabalho do ex-chefe de gabinete de Costa, Vítor Escária, ao mesmo tempo que brande o epíteto de “radical” para tentar assustar as pessoas com a hipótese de o ex-ministro das Infra-Estruturas Pedro Nuno Santos chegar a primeiro-ministro. Pelo meio, porém, acusa Pedro Nuno Santos de não ser afinal suficientemente radical, porque, neste Orçamento do Estado para 2024, não votou a favor da reposição do tempo integral de serviço dos professores que havia sido congelado.

No dia em que António Costa se emocionou, ao ser aplaudido pelos deputados da sua primeira maioria absoluta após quatro anos de “geringonça”, ficaram clarinhas as linhas da campanha que aí vem, bem como as contradições principais da argumentação de cada partido. O país já não é o de 2015, mas os dois maiores partidos voltam sempre a 2015.

O Chega, por sua vez, na linha da demagogia e simplismo que o caracteriza, puxa para cima da mesa as promessas sociais (aumento de pensões, contribuição especial sobre a banca, etc.) mais do que os temas que anteriormente escolhia para se demarcar, como a segurança ou a imigração. Para o Chega, as contas certas nem sequer são assunto, no seu discurso vale tudo e o vale tudo passa por prometer tudo ao mesmo tempo.

A juntar isto, esta quarta-feira foi o dia em que um ex-governante, João Paulo Rebelo, que tutelou a Secretaria de Estado do Desporto, falou publicamente depois de ter sido alvo de buscas da Polícia Judiciária e em que os actuais ministros das Finanças, Fernando Medina, e do Ambiente, Duarte Cordeiro, viram ser arquivada uma suspeita, que se arrastava há seis anos, de irregularidades com ajustes directos, relativa ao período em que eram autarcas na Câmara de Lisboa.

Aí estão todas as peças em cima da mesa. Promessas e demagogia, buscas e suspeitas numa conjugação perigosa que tudo amalgama, quando o que o país pede é discernimento e transparência.

QOSHE - O último Orçamento de Costa e uma amálgama - Helena Pereira
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O último Orçamento de Costa e uma amálgama

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30.11.2023

Esta quarta-feira, dia em que o nono e último Orçamento do Estado de António Costa foi aprovado na Assembleia da República, representa o fim de uma etapa para o primeiro-ministro e constituiu, ao mesmo tempo, um exemplo paradigmático daquilo que serão os próximos quatro meses até às eleições. O guião está traçado.

O PS acusa o PSD de querer imitar o Chega, avisando que os portugueses “preferem sempre o original à cópia”, ao mesmo tempo que não esquece os anos de Pedro Passos Coelho e da austeridade da troika para bater na tecla de que ninguém se poderá fiar na guinada aparentemente mais ao centro de Luís Montenegro (com a promessa de aumento do........

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