Vários mercadores1 noticiosos, como o New York Times, a CNN, e o Le Temps, noticiaram que o sr. presidente da república francesa terá afirmado, aquando da sua visita a Israel, logo a seguir à intervenção humanitária2 de 7 de Outubro, operada pelo governo de Gaza3 em homenagem à sagrada Al-Aqsa, que “a luta contra o terrorismo deve ser travada sem misericórdia4 mas não sem regras.” Não foi possível confirmar a veracidade5 desta notícia por fontes independentes6. Mas ela justifica uma reflexão sobre a importância das regras no combate ao terrorismo.

Comecemos por notar que toda a interação humana, queiramos ou não, está sujeita a regras. Até na guerra há regras. Como dizia um personagem na infantil novela Last Argument of Kings, “[r]egras são para crianças. Isto é guerra, e na guerra o único crime é ser derrotado.” Nada torna as regras tão eficazes & operativas como serem poucas & muito claras. No limite basta uma. Os nossos legisladores deviam tomar nota.7

Mas o sr. presidente, que está no negócio de elaborar & promulgar leis8, provavelmente não tem em mente um sistema tão simples, de uma só regra. E como nenhum dos mercadores acima mencionados disponibilizou detalhes relativamente a que regras o dito monsieur se referia, um caso típico de vender o pacote sem o conteúdo, o mercado fica aberto à especulação.

A declaração, no entanto, torna claro que as regras do combate não devem ter misericórdia. Portanto o dito sr. não tem em mente um sistema de inspiração cristã, com todo o seu enfase em caridade, misericórdia & afins, o que é coerente com os princípios básicos da república que dirige. Será, então, que se referia às regras, nada cristãs, mas muito laicas9, que a sua república segue no combate ao terrorismo? Mas será o sistema moral10 que lhe serve de base universalmente aceite? Não o sendo, não demonstraria tal sugestão um resquício de mentalidade euro-centrista, de um imperialismo11 cultural y moral paternalista, patriarcal12 & branco13, algo de anacrónico e que todos supúnhamos já estava em vias de extinção?

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Também se pode dar o caso de se estar a referir às regras de intervenção das forças armas israelitas. Essas regras são conhecidas: estão publicadas, a sua infração é punida, e a sua aplicação é observável por qualquer leigo12, mesmo através da cortina de fumo gerada pelos traficantes noticiosos acima referidos. Mas que sentido faz um dirigente francês lembrar a um israelita, ou já agora, a um chinês ou marroquino, para seguir as regras, leis & costumes da sua própria nação?

Ou será que o sr. presidente estaria a fazer um apelo para os israelitas adotarem as regras de combate do estado gazano? Embora estas não estejam publicamente disponibilizadas, são facilmente deduzidas através das práticas & comportamentos dos seus valorosos14 combatentes, solidamente alicerçados em princípios éticos bem conhecidos, Allahu Akbar, que ninguém põe em causa, nem sequer Sua Santidade. Tendo em conta que monsieur tem frequentemente defendido o princípio de que as regras devem ser iguais para todos, o que se afigura ser justo y equitativo, parece razoável assumir serem estas que ele estaria a pedir aos israelitas para aplicarem.

Esperemos que o não façam. Que simplesmente ignorem a recomendação do sr. francês e não imitem as regras dos gazanos. Todas as regras, leis & regulamentos que vão contra a natureza humana, universalmente impressa nos nossos corações, são ilegítimas. Mesmo quando rotuladas de “humanitárias”. Todos sabemos, até qualquer membro do Hamas15 o sabe, sem necessidade que alguém nos ensine, que há coisas que não devemos fazer, nunca nem por nenhum motivo. Entre elas está o tirar deliberadamente a vida a um ser humano inocente. Sejam criancinhas, avozinhos, ou pessoas que pacificamente vivam a sua vida. Seja por humanismo ou economia, por misericórdia ou ecologia. Qualquer assassino, aborcionista ou deputado do ps/d que vota a favor do aborto ou da cacotanásia16 sabe isto de modo inato.

Pode ser que diga que não o sabe, mas sabe-o. Pode ser que diga que não acredita nisso, ou que não lhe é evidente, mas é apenas porque o não quer ver, e porque quer esquecer o que em tempos já viu, ou intuiu, nas profundidades do seu ser: que matar conscientemente uma pessoa inocente é sempre uma abominação. Não existem, na realidade, relativistas éticos. Os supostos relativistas estão a brincar ao faz de conta. E estão a tentar-se enganar a si próprios com desculpas que tem uma aderência semelhante à que se consegue com o cuspo. Desculpas que nascem do egoísmo17, possivelmente ainda não diagnosticado pelo seu médico de família, ou de algo ainda mais grave, e que têm por base a desumanização do outro: que ele não é total ou verdadeiramente humano ou porque é judeu18, ou porque não é da nossa tribo, ou porque o tio-avô dele foi um criminoso, ou porque está a ficar demente, ou porque ainda não nasceu.

É isso que o governo de Gaza faz com os israelitas, e que os socialistas alemães fizeram com os judeus. Esperemos que o estado de Israel continue a não o fazer. Que continue a lutar contra o terrorismo, não sem misericórdia, ou com ódio religioso, mas com determinação & vigilância19, de acordo com as regras que sempre seguiu, e que continue a se lembrar & a praticar aquela outra regra que lhe foi dada: “A mesma lei se aplica tanto aos israelitas de nascimento como aos estrangeiros que vivem entre vós. Eu sou o Senhor vosso Deus.” (Lev. 24, 22)

U avtor não segve as regras da graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein as do antygo. Escreue covmv qver & lhe apetece. #EncuantoNusDeixam

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Regras sim, mas quais?

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10.11.2023

Vários mercadores1 noticiosos, como o New York Times, a CNN, e o Le Temps, noticiaram que o sr. presidente da república francesa terá afirmado, aquando da sua visita a Israel, logo a seguir à intervenção humanitária2 de 7 de Outubro, operada pelo governo de Gaza3 em homenagem à sagrada Al-Aqsa, que “a luta contra o terrorismo deve ser travada sem misericórdia4 mas não sem regras.” Não foi possível confirmar a veracidade5 desta notícia por fontes independentes6. Mas ela justifica uma reflexão sobre a importância das regras no combate ao terrorismo.

Comecemos por notar que toda a interação humana, queiramos ou não, está sujeita a regras. Até na guerra há regras. Como dizia um personagem na infantil novela Last Argument of Kings, “[r]egras são para crianças. Isto é guerra, e na guerra o único crime é ser derrotado.” Nada torna as regras tão eficazes & operativas como serem poucas & muito claras. No limite basta uma. Os nossos legisladores deviam tomar nota.7

Mas o sr. presidente, que está no negócio de elaborar & promulgar leis8, provavelmente não tem em mente um sistema tão simples, de uma só regra. E como nenhum dos mercadores acima mencionados disponibilizou detalhes relativamente a que regras o dito monsieur se referia, um caso típico de vender o pacote sem o conteúdo, o mercado fica aberto à especulação.

A declaração, no entanto, torna claro que as regras do........

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