O problema não é a queda de um governo. Isso pode acontecer por múltiplas razões válidas. O grande problema é o efeito terrível desta crise inesperada e inédita na imagem externa do país. É assim no incrementar da perceção de corrupção, de hostilidade ao capital estrangeiro, de opacidade e morosidade da justiça, da instabilidade política. Tudo isto são fatores muito desincentivadores do grande investimento estrangeiro de que precisamos. Ninguém de boa fé pode negar tensões e desconfianças sem precedentes entre os diferentes poderes do Estado. É também notória uma crescente polarização política e partidária muito centrada em casos e casinhos, portanto distraída das verdadeiras prioridades do desenvolvimento do país. Pior, enfrentamos esta crise num momento de crise e rutura da ordem internacional, de multiplicação de conflitos violentos, de transformação radical da economia, da energia, da tecnologia que representam enormes desafios para Portugal.

Uma crise como esta até pode ser inevitável. Negar a sua existência é que seria um disparate. Sim, a separação não pode significar imunidade ou impunidade seja do governo, do parlamento ou da justiça. Mas o que sucedeu não é certamente algo normal e corriqueiro. Uma das coisas que a chefia legal do Ministério Público, e não o seu porta-voz oficioso, deviam esclarecer cabalmente é porquê agora? A investigação, as escutas aparentemente duram há anos, o que tornou tão urgente estas diligências agora? Não acontece todos os dias tornar-se inevitável a demissão do chefe de governo, neste caso António Costa, por um vago comunicado do serviço de imprensa da Procuradoria Geral da República. Isto dando eu de barato que a crise também resulta da recusa ou incapacidade de Costa renovar o pessoal político à sua volta. Muito poderia ser diferente se o líder do PS tivesse ouvido, não a oposição ou a imprensa, mas os apelos nesse sentido do presidente do próprio partido, Carlos César.

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Crise de regime, crise externa e avós sapateiros

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18.11.2023

O problema não é a queda de um governo. Isso pode acontecer por múltiplas razões válidas. O grande problema é o efeito terrível desta crise inesperada e inédita na imagem externa do país. É assim no incrementar da perceção de corrupção, de hostilidade ao capital estrangeiro, de opacidade e morosidade da justiça, da instabilidade política. Tudo isto são fatores muito desincentivadores do grande investimento estrangeiro de que precisamos. Ninguém de boa fé pode negar tensões e desconfianças sem precedentes entre os diferentes poderes do Estado. É também notória uma........

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