O divórcio entre os portugueses e aqueles que ocupam todo o seu tempo no desempenho de actividades políticas tem-se acentuado, sendo hoje mais do que evidente de que a maioria da população perdeu por completo a confiança em todos quantos têm tido a responsabilidade de os governar.

Como resultado dessa alienação, enfrentamos nestes tempos a realidade de que metade dos eleitores não se predispõe a votar, deixando nos restantes a incumbência de escolher quem deverá dirigir os destinos do País.

A razão de ser desta desconfiança encontra uma explicação numa simples verdade: o fraco nível, moral e cognitivo, dos políticos que nos caíram em sorte!

Longe vão os tempos em que em todas as bancadas parlamentares se digladiavam, num sentido generoso do termo, políticos de fibra e com coluna vertebral, cujo propósito, independentemente de nos identificarmos ou não com suas ideias, seria apenas o de servir o Estado e não dele se servirem.

Na actualidade, assistimos ao oposto. Uma total pobreza de espírito dentro da esmagadora maioria da classe política, a qual se revela absolutamente incapaz de exercer com competência e despreendimento as tarefas inerentes à sua obrigação.

Exemplo desta fatalidade é Pedro Nuno Santos, mandatado, pelas suas bases, para liderar o partido que mais tempo tem conduzido a governação de Portugal, mas de quem não se conhece um único rasgo de mestria que o habilite a ter êxito nos fins a que se propõe.

Nunca, na sua vida adulta, exerceu qualquer ofício fora da esfera dos joguinhos partidários, tendo-se revelado um verdadeiro desastre quando foi convocado para o cumprimento de funções ministeriais.

As trapalhadas em que se envolveu em projectos de capital importância para o desenvolvimento nacional, como a TAP, a Ferrovia e o futuro aeroporto, entre outros, e que o levaram à demissão do cargo que desempenhava, seriam motivo mais do que suficiente para nunca mais ser chamado ao exercício de funções públicas.

No entanto, tem sido levado ao colo por uma imprensa submissa e comprometida com o polvo socialista.

Tal afinidade começa logo com o tratamento com que é distinguido, sendo sempre referenciado pelos seus nomes próprios, deferência que reservamos aos amigos, e não pelo apelido, conforme é da praxe.

Santos! O homem chama-se Santos!

Além de mais, tem vindo a ser bafejado pela sorte, parecendo que tudo lhe cai do céu sem que, para o efeito, tenha que mexer uma palha que seja.

Alcança a chefia do seu partido bem mais cedo do que almejava, lucrando, desse modo, com o infortúnio que bateu à porta de quem lhe estendeu a mão e a qual mordeu sem contemplações.

Sobretudo fruto desse antecipar de calendário, encontra uma oposição frouxa e perdida no rumo que se mostra inapta em traçar, motivo pelo qual todas as sondagens insistem numa sua eventual vitória, apesar de todos os escândalos em que o governo de que fez parte se envolveu, alguns deles por si protagonizados.

A sorte de Santos é o azar de Montenegro.

Procura-se reeditar uma Aliança Democrática, cujo sucesso na última vintena do século passado assentou no prestígio, lucidez e inteligência dos seus arquitectos e na robustez dos partidos que nela se integraram.

A AD de hoje não tem rigorosamente nada a ver com a de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Ribeiro Teles.

Montenegro está a anos-luz do fundador do PSD, assumindo-se uma nulidade na capacidade de galvanizar as suas tropas e de nelas incutir a necessária confiança para que lhe ofereçam o seu voto.

O CDS, na altura, representava cerca de 16% do eleitorado. Hoje, por culpa própria, definha pesarosamente e socorre-se desta nova versão da AD somente com o propósito de regressar ao parlamento, objectivo quase impossível de concretizar caso se apresentasse sozinho perante o eleitorado.

Quanto ao PPM, mal-grado a escassa base eleitoral de que já na altura dispunha, tinha entre os seus quadros algumas das melhores cabeças pensantes da nossa sociedade de então.

A realidade actual é de uma sublime tristeza. Qualquer comparação entre os dois Gonçalos, o Ribeiro Teles e o fadista Câmara Pereira, equivale a encontrar-se semelhanças entre um palácio e um casebre em ruínas!

Mas a fortuna de Santos também encontra eco nos sucessivos equívocos do seu principal adversário na conquista da residência oficial de S. Bento.

Montenegro cometeu dois erros de palmatória, apenas explicados pela sua ingenuidade ou pela ausência de experiência nas lides em que se aventurou.

O primeiro, ao descartar a possibilidade de reivindicar a cadeira de primeiro-ministro na eventualidade da coligação que dirige não vier a ser a força mais votada.

Montenegro parece ignorar que o bipartidarismo morreu!

Hoje, e o percussor desta novel regra foi Costa, quem forma governo não tem que ser, necessariamente, o partido mais votado, mas sim aquele que lograr obter maior consenso junto de todas as forças partidárias com representação parlamentar.

Acresce que o espaço político à direita do PS está fragmentado, realidade que somente ganhou forma nos derradeiros anos, sendo que uma percentagem muito elevada do eleitorado dessa área política está disposto a depositar o seu voto em outros actores que se movimentam fora da coligação que a AD atraiu.

Por este motivo, a probabilidade do PS vencer as eleições que se aproximam é bem real, mas delas resultar uma maioria absoluta dos partidos de esquerda está bastante longe do cenário mais verosímil.

O segundo erro de Montenegro foi o de ter cedido à chantagem da esquerda, aceitando as linhas vermelhas por esta impostas.

Ao rejeitar liminarmente qualquer possibilidade de entendimento com o Chega, cuja base eleitoral, a fazer fé em todos os estudos que se conhecem das diversas empresas de sondagens, é hoje muito semelhante à dos tempos áureos do CDS de Freitas e Amaro da Costa, provavelmente mesmo superior, Montenegro oferece a Santos, de bandeja, a tarefa de formar governo, excluindo-se dessa responsabilidade.

Por sua vez, Santos, com inteligência, vem reafirmando a sua vontade de se entender com os partidos à sua esquerda, caso o PS deles venha a precisar para a conquista do poder.

E, convenhamos, a distância que vai do bloco e do PC aos socialistas que se supõem moderados, é bem maior daquela que separa o Chega dos partidos que integram a AD.

Certamente que quem se der ao trabalho de ler o programa do partido que com inusitada insistência é rotulado, pelos que se arvoram em guardiões do regime, de extrema-direita, nada vai encontrar que o identifique com qualquer simpatia anti-democrática, ao contrário dos estalinistas e trotskistas amigos de Santos, que se revêem nas atrocidades levadas a cabo pelas ditaduras comunistas.

Mas Santos tem consciência de que necessita destes supostos amigos, por essa razão não os critica, direccionado o seu combate somente para quem se situa no campo da direita e poupando os adversários da extrema-esquerda.

O estratagema de Montenegro é precisamente o contrário, tendo encarregado, ao que parece, o seu parceiro e homólogo do CDS de procurar denegrir, a toda a hora, o Chega e seus simpatizantes, esquecendo-se de que os adversários que lhe poderão roubar o sonho de alcançar a chefia do governo estão, apenas e só, na extinta geringonça, que vive na espectativa, cada vez mais real, de vir a ressuscitar.

Montenegro, se ainda tem alguma esperança em sair vitorioso do acto eleitoral que irá definir o seu futuro político, tem como exclusiva opção a de apontar todas as baterias na direcção de Santos, o seu verdadeiro rival, deixando em paz todos quantos lhe possam vir a ser úteis na prossecução do seu objectivo.

A estratégia não pode continuar a ser a de atacar potenciais aliados, cujo resultado prático será apenas o de engrossar as suas fileiras, mas sim alocar algumas das ideias por eles defendidas e que sempre foram caras a quem vota mais à direita.

Talvez assim Montenegro consiga vir a instalar-se em S. Bento!

QOSHE - Os erros de Montenegro - Pedro Ochôa
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Os erros de Montenegro

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01.02.2024

O divórcio entre os portugueses e aqueles que ocupam todo o seu tempo no desempenho de actividades políticas tem-se acentuado, sendo hoje mais do que evidente de que a maioria da população perdeu por completo a confiança em todos quantos têm tido a responsabilidade de os governar.

Como resultado dessa alienação, enfrentamos nestes tempos a realidade de que metade dos eleitores não se predispõe a votar, deixando nos restantes a incumbência de escolher quem deverá dirigir os destinos do País.

A razão de ser desta desconfiança encontra uma explicação numa simples verdade: o fraco nível, moral e cognitivo, dos políticos que nos caíram em sorte!

Longe vão os tempos em que em todas as bancadas parlamentares se digladiavam, num sentido generoso do termo, políticos de fibra e com coluna vertebral, cujo propósito, independentemente de nos identificarmos ou não com suas ideias, seria apenas o de servir o Estado e não dele se servirem.

Na actualidade, assistimos ao oposto. Uma total pobreza de espírito dentro da esmagadora maioria da classe política, a qual se revela absolutamente incapaz de exercer com competência e despreendimento as tarefas inerentes à sua obrigação.

Exemplo desta fatalidade é Pedro Nuno Santos, mandatado, pelas suas bases, para liderar o partido que mais tempo tem conduzido a governação de Portugal, mas de quem não se conhece um único rasgo de mestria que o habilite a ter êxito nos fins a que se propõe.

Nunca, na sua vida adulta, exerceu qualquer ofício fora da esfera dos joguinhos partidários, tendo-se revelado um verdadeiro desastre quando foi convocado para o cumprimento de funções ministeriais.

As trapalhadas em que se envolveu em projectos de capital importância para o desenvolvimento nacional, como a TAP, a Ferrovia e o futuro aeroporto, entre outros, e que o levaram à demissão do cargo que desempenhava, seriam motivo mais do que suficiente para nunca mais ser chamado ao exercício de funções públicas.

No entanto, tem sido........

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