As eleições trouxeram dois claros vencedores, a AD e o Chega, os quais, obrigatoriamente, terão que se entender para que a legislatura possa empreender as necessárias reformas e chegar ao fim.

Os derrotados são todos os outros, a esquerda e os liberais.

Rui Tavares é o único que poderá cantar de galo, mas mesmo para o Livre ter logrado obter um grupo parlamentar não lhe vai servir absolutamente de nada. Todas as propostas maliciosas que procurarem impor esbarrarão numa maioria de direita que não as aceitará.

Mas o maior derrotado foi, sem dúvida, António Costa!

Depois de lhe ter sido confiada uma maioria absoluta há apenas dois anos, não teve arte nem engenho para a aproveitar, permitindo-se deixar que o seu governo tenha caído de podridão, atolado em casos de corrupção e de inaptidão de quase todos quantos escolheu para se sentarem consigo à mesa do conselho de ministros.

Por isso foi copiosamente derrotado nas urnas. Bem poderá argumentar que não foi ele quem se apresentou perante o eleitorado, mas os portugueses não penalizaram Pedro Nuno Santos, mas sim a governação socialista, protagonizada na pessoa de Costa.

E a noite terminou mesmo bastante mal para ele, porque acabou por ser desautorizado pelo seu sucessor na direcção do partido, em directo e ao vivo, após, pateticamente, ter argumentado, perante as câmaras de televisão, que as eleições ainda não estavam decididas e somente os votos dos emigrantes decidiriam o vencedor e, consequentemente, o partido a ser encarregado de formar governo.

Santos, há que o reconhecer, esteve bem na hora da derrota, pelo que surpreendeu pela positiva. Ao contrário de Costa, soube ler os resultados eleitorais e perceber que mesmo que o PS ultrapasse a AD em número de deputados, por via dos votos dos que vivem fora de Portugal, probabilidade que, racionalmente, considerou quase impossível, não terá as mínimas condições para governar, por a maioria de direita ser um facto consumado.

Com sentido de Estado, algo que lhe faltou em anteriores ocasiões, entendeu não deixar o País em suspenso por mais duas semanas e concedeu à AD o estatuto de força vitoriosa, dispondo-se também a viabilizar o consequente programa de governo.

Foi coerente com o que garantira durante a campanha eleitoral, o de que o PS votará contra os orçamentos de Estado, remetendo para os partidos da direita a aprovação destes.

Há dois anos, Catarina Martins teve a humildade de reconhecer que os resultados eleitorais de então foram francamente maus para o bloco de esquerda, que viu o seu grupo parlamentar ser reduzido de dezanove para cinco deputados.

No entanto, Mariana Mortágua veio confirmar que o mundo dela gira à volta de uma mentira completa. Depois das aldrabices sobre a avó e o pai, pouco exploradas por uma imprensa que a leva ao colo, mostrou-se incapaz de lidar com a verdade ao reivindicar uma euforia com os votos alcançados nas urnas, justificando-se por mais eleitores terem depositado agora a sua confiança no BE.

Se no rescaldo das anteriores legislativas o sentimento na sede dos bloquistas era de pesar, obviamente que nestes dias o estado de espírito, naquela casa, deveria ser precisamente o mesmo.

A extrema-esquerda caviar manteve exactamente o mesmo número de deputados do que os obtidos na antecedente legislatura, daí não passar de um inusitado descaramento e ausência de cultura democrática vir-se argumentar que o BE cresceu.

Houve mais votantes no bloco, certamente que sim, da mesma forma que todos os outros partidos, com excepção do PS e do PCP, subiram também em número de votantes, mas pela simples razão de que no passado domingo a abstenção ter sido bem mais reduzida, com bastante mais gente a deslocar-se às mesas de voto.

Mas a ainda líder do BE foi mais longe no seu desaforo, ao anunciar que será a fiel da balança na oposição à direita, prontificando-se a liderar um projecto que impeça a AD de assumir a chefia do governo.

Sabemos que Mortágua, apesar do seu alegado doutoramento em economia, não é versada em matemática, lidando muito mal com números, sendo que numa recente entrevista revelou-se inapta para responder a uma simples pergunta, a de quantos são 7 vezes 8!

Mas, quero acreditar, haverá alguma alminha naquele partido que esteja mais à vontade com a aritmética e lhe possa fazer o favor de explicar que a soma dos cinco deputados do bloco com os restantes que ainda acreditam no socialismo, será sempre insuficiente para beliscar, sequer, a ala direita do parlamento.

Inês Sousa Real, outra das perdidas em sonhos irreais, veio igualmente regozijar-se por o seu partido ter recolhido mais votos, mas os factos que contam é que continuará a ser a única deputada do PAN a sentar-se no hemiciclo, confirmando-se, assim, o desastre eleitoral que há apenas dois anos vitimou estes animalistas, pelo que a dita senhora vai continuar a pregar aos peixes, a única espécie viva que ainda a ouve.

Para os comunistas, continua a saga da perda da influência junto dos portugueses que ainda lhes eram fiéis, tendo agora sido varridos do mapa na região considerada, ao longo do último meio século, como o bastião vermelho: o Alentejo.

Tudo leva a crer que muitos antigos votantes do PCP transferiram o seu voto para o Chega, mas este facto não justifica, por si só, o fraco resultado que lhes saiu em sorte. O eleitorado comunista caracteriza-se por uma idade avançada e as novas gerações, incluindo as que nasceram e vivem nas terras que até há pouco tempo estavam fidelizadas ao partido, não seguem as pisadas dos seus progenitores e encaram a vida com uma mente mais aberta para um mundo em mudança.

Quanto aos liberais, igualmente não têm motivos para grandes celebrações.

Ao contrário dos partidos daquele que é comummente identificado como o seu espectro político, não cresceram e a sua influência será agora bem menor num quadro parlamentar que não estará propriamente vocacionado para as causas fracturantes.

Além de mais, perderam a aposta de obterem uma maioria com a AD, hipótese que lhes daria protagonismo e remeteria o Chega para um papel secundário, razão porque descartaram já a possibilidade de integrarem o novo arco do poder.

Finalmente, como grandes vencidos temos também a generalidade dos opinadores políticos que se pavoneiam nas várias televisões, que, do alto da sua soberba, vaticinaram, em concertação, a derrocada do partido que adoptaram como ódio de estimação.

Esperemos que os seus patrões tenham aprendido a lição e lhes apontem a porta da rua.

Pedro Ochôa

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Os derrotados

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18.03.2024

As eleições trouxeram dois claros vencedores, a AD e o Chega, os quais, obrigatoriamente, terão que se entender para que a legislatura possa empreender as necessárias reformas e chegar ao fim.

Os derrotados são todos os outros, a esquerda e os liberais.

Rui Tavares é o único que poderá cantar de galo, mas mesmo para o Livre ter logrado obter um grupo parlamentar não lhe vai servir absolutamente de nada. Todas as propostas maliciosas que procurarem impor esbarrarão numa maioria de direita que não as aceitará.

Mas o maior derrotado foi, sem dúvida, António Costa!

Depois de lhe ter sido confiada uma maioria absoluta há apenas dois anos, não teve arte nem engenho para a aproveitar, permitindo-se deixar que o seu governo tenha caído de podridão, atolado em casos de corrupção e de inaptidão de quase todos quantos escolheu para se sentarem consigo à mesa do conselho de ministros.

Por isso foi copiosamente derrotado nas urnas. Bem poderá argumentar que não foi ele quem se apresentou perante o eleitorado, mas os portugueses não penalizaram Pedro Nuno Santos, mas sim a governação socialista, protagonizada na pessoa de Costa.

E a noite terminou mesmo bastante mal para ele, porque acabou por ser desautorizado pelo seu sucessor na direcção do partido, em directo e ao vivo, após, pateticamente, ter argumentado, perante as câmaras de televisão, que as eleições ainda não estavam decididas e somente os votos dos emigrantes decidiriam o vencedor e, consequentemente, o partido a ser encarregado de formar governo.

Santos, há que o reconhecer, esteve bem na hora da derrota, pelo que surpreendeu pela positiva.........

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