Do recente debate que opôs Pedro Nuno Santos a Luís Montenegro, que nos deixou ainda mais apreensivos quanto ao facto de um deles vir a ser o próximo primeiro-ministro, sobressaiu um dado novo, o de que o PS não irá inviabilizar um eventual governo da AD, caso esta disponha de maioria parlamentar.

De imediato, os costumeiros comentadeiros que se atropelam nas várias estações televisivas vieram enaltecer o sentido de estado evidenciado por Santos, concluindo que este assumira o mais que provável desfecho de uma derrota eleitoral, razão porque foi assolado por um súbito espírito de moderação e vontade de não se permitir deixar o país ingovernável.

Os elogios multiplicaram-se de todos os quadrantes políticos, apelando-se a que Montenegro seguisse os passos do seu adversário, prontificando-se, nesse sentido, a aceitar igualmente um governo minoritário do PS, se este vencer o próximo acto eleitoral.

Na verdade, até ao debate que nos entristeceu, pela pobreza de ideias e de argumentos esgrimidos pelos dois antagonistas, Santos sempre jurara a pés juntos que jamais daria a sua concordância a um governo encabeçado pela AD, independentemente dos resultados eleitorais, promessa que cumpriu nos Açores, ao determinar o voto contra o programa do governo legitimado nas urnas pelos açoreanos.

Para os famigerados opinadores televisivos, que diariamente nos agridem com a sua diarreia verbal, a repentina mudança de estratégia de Santos é prova da sua maturidade e crescimento enquanto homem e político, havendo toda a necessidade de esse mérito ser do reconhecimento público.

Nada mais falso!

A vaidade, arrogância, soberba e presunção de Santos não lhe permitem, em circunstância alguma, admitir sequer uma hipotética derrota eleitoral. Muito pelo contrário, ele está convencido da vitória, mas, no entanto, tem consciência de que somente a conjugação de dois factores lhe poderá fazer sorrir na noite das eleições.

Em primeiro lugar, que à direita não haja um voto útil na AD, e, depois, que à esquerda o voto útil se concentre no PS.

Dividir para reinar é o seu propósito, daí a opção por esta nova estratégia que, obviamente, não saiu da sua cabeça, porque o seu faro político não o habilita a farejar a uma distância demasiado significativa, mas sim de alguém que nutre uma paixão sem limites pelo PS, bem reveladora nos seus comentários a que se presta num canal de televisão.

A fanfarronice de Santos é clara; acenar aos eleitores à direita do espectro político, que estão indecisos entre votar nos partido nos quais mais se revêem, nomeadamente no Chega e na Iniciativa Liberal, ou oferecer o seu voto à AD, convictos de que apenas uma vitória significativa desta força poderá impedir a continuação da governação socialista, transmitindo-lhes o recado que que podem votar em consciência em qualquer um dos partidos com assento na ala direita do parlamento, porque o PS não vai deitar abaixo um governo minoritário da coligação liderada pelo PSD.

Ao mesmo tempo, Santos exerce uma notória chantagem sobre os simpatizantes dos partidos da extrema-esquerda, dizendo-lhes, com frontalidade, de que se não votarem no PS, ele próprio dará cobertura a um governo de direita.

Ou o PS ou a AD, são as únicas opções em cima da mesa para o eleitorado da esquerda extremista, segundo a visão de Santos!

Mas Santos procurou ainda, com esta sua brusca mudança de planos, condicionar aquele que identifica como o seu principal adversário a também definir, antes das eleições, qual o seu sentido de voto se confrontado com um possível programa de um governo minoritário do PS, salvaguardado, assim, a possibilidade de sobreviver a uma moção de rejeição.

Montenegro, no entanto, e num raro rasgo de perspicácia política, não caiu na esparrela e deixou o seu adversário a falar sozinho.

Santos não passa de um fanfarrão e está muito longe de ser o animal político, termo pelo qual foi apelidado o seu mentor, agora a contas com a justiça e refugiado na Ericeira, quando ainda militava nas camadas jovens dos socialistas.

Foi um péssimo ministro, acabando por sair pela porta pequena depois de defraudar o erário com políticas ruinosas, não se esperando, por essa razão, que como primeiro-ministro se possa vir a destacar pelas virtudes da competência e do brio.

Na verdade, quem torto nasce, nunca se endireita!

QOSHE - A fanfarronice de Santos - Pedro Ochôa
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A fanfarronice de Santos

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22.02.2024

Do recente debate que opôs Pedro Nuno Santos a Luís Montenegro, que nos deixou ainda mais apreensivos quanto ao facto de um deles vir a ser o próximo primeiro-ministro, sobressaiu um dado novo, o de que o PS não irá inviabilizar um eventual governo da AD, caso esta disponha de maioria parlamentar.

De imediato, os costumeiros comentadeiros que se atropelam nas várias estações televisivas vieram enaltecer o sentido de estado evidenciado por Santos, concluindo que este assumira o mais que provável desfecho de uma derrota eleitoral, razão porque foi assolado por um súbito espírito de moderação e vontade de não se permitir deixar o país ingovernável.

Os elogios multiplicaram-se de todos os quadrantes políticos, apelando-se a que Montenegro seguisse os passos do seu adversário, prontificando-se, nesse sentido, a aceitar igualmente um governo minoritário do PS, se este vencer o próximo acto eleitoral.

Na verdade, até ao debate que nos entristeceu, pela pobreza de ideias e de argumentos esgrimidos pelos dois antagonistas, Santos sempre jurara a pés juntos que jamais daria a sua........

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