Há escassos dias, o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça disse, em voz alta e para quem o quis ouvir, que a corrupção está instalada em Portugal, nomeadamente no seio do aparelho de Estado.

Ainda estas declarações estavam a fazer eco junto de alguns sectores, não muitos, diga-se de passagem, porque há que desvalorizar o óbvio, e eis que o gabinete do primeiro-ministro é alvo de buscas e vários elementos da sua entourage são detidos ou simplesmente constituídos arguidos.

A Costa não restou outra alternativa que não a de apresentar a sua demissão e, consequentemente, a de todo o governo que ainda chefia, demissão esta que foi prontamente aceite por Marcelo, se bem que apenas verbalmente.

Podemos admitir, pelo menos até prova em contrário, que Costa esteja inocente da prática de qualquer acto de corrupção, mas o simples facto de estar a ser investigado na mais alta magistratura judicial do País, recaindo sobre ele suspeitas de envolvimento neste processo-crime, é motivo suficiente para que se afaste, o mais depressa possível, dos meandros da governação.

Acresce que as suspeitas do ministério público não estão direccionadas para um ministério de somenos importância, mas sim para o próprio gabinete do primeiro-ministro, sendo da exclusiva responsabilidade deste tudo quanto lá se passa.

Quando o centro nevrálgico do governo está sob suspeição, havendo mesmo elementos do seu núcleo duro detidos ou constituídos arguidos, a responsabilidade primária pela actividade delituosa que se prolongou no tempo é do primeiro-ministro, o qual, mesmo que não se prove o seu directo envolvimento, permitiu, por omissão, que o poder executivo se deixasse enlamear nas teias da corrupção.

Não se compreende, assim, a decisão presidencial de não legitimar de imediato a demissão do governo, permitindo-se que Costa se mantenha em S. Bento, pelo menos durante mais cinco meses, podendo, no exercício das suas funções, interferir com o processo judicial em curso, como, aliás, o fez na sua declaração de sábado perante as televisões.

No preciso momento em que as duas pessoas da sua maior confiança política, o seu chefe de gabinete e o seu testa-de-ferro nas negociatas do Estado, estavam a ser ouvido na qualidade de arguidos detidos, Costa, em pleno horário nobre das audiências televisivas e valendo-se do cargo que ainda exerce, deu-se ao luxo de se vitimizar em directo e procurar justificar as acções dos seus acólitos, condicionando, desse modo, o papel de investigação do ministério público.

Uma clara e grosseira interferência do poder político na esfera judicial, motivo mais do que suficiente, e obrigatório, para que a sua demissão se torne de imediato efectiva.

Há, no entanto, uma razão bem mais fundamentada para que Costa tenha chegado à conclusão de que a sua demissão é irreversível, antes mesmo das suas eventuais responsabilidades criminais serem ou não sancionadas em sede de justiça.

E essa razão tem apenas um nome: Galamba!

Contra tudo e contra todos, sobretudo em evidente braço de ferro com o presidente da república, Costa decidiu segurar o seu ministro, apesar de este se ter revelado incapaz e perigosamente infantil para o exercício de qualquer encargo ministerial.

Ao aventurar-se no confronto directo com Marcelo, e também com os poucos espíritos livres que ainda deambulam pelo seu partido, que tiveram a clareza de o alertar para a incongruência da sua decisão, Costa selou o seu destino político ao de Galamba.

A queda de Galamba, por indecência e má figura, implicava também a porta de saída para Costa.

Costa tem noção disso, daí ter assumido, de imediato, a decisão de interromper o seu percurso ao leme do governo.

O que se torna absolutamente injustificável, é que Galamba, apesar de todos os evidentes e fortes indícios de gestão criminosa no ministério que tutela, se mantenha ainda em funções e que Costa, ao invés de o demitir de imediato, como o fez com o seu chefe de gabinete, protele essa decisão e pretenda ainda discuti-la com Marcelo numa reunião que ocorrerá uma semana depois da sua constituição como arguido.

O chefe de gabinete foi logo despachado porque tinha o gabinete infestado de dinheiro vivo, mas Galamba, em cuja residência foram encontradas várias doses de haxixe, permanece intocável!

A droga é apenas para consumo, pelo que não é crime, apressaram-se a alegar diversas mentes socialistas, ávidas em branquear o comportamento do capanga das andanças partidárias.

Pode ser que sim, mas o que é manifestamente criminoso é que um ministro que tutela uma área de importância capital para o desenvolvimento do País, em cujos investimentos possam estar em jogo centenas de milhões de euros, possa vir a ter que tomar uma decisão sob a influência de psicotrópicos!

Marcelo, como é seu timbre, quis dar uma no cravo e outra na ferradura.

Contra a vontade do PS, optou por dissolver a assembleia da república e marcar eleições antecipadas.

Mas, em simultâneo, e para agradar as hostes socialistas, decidiu-se pela continuidade de Costa durante quase meio ano, tempo mais do que bastante para que este alargue ainda mais o enorme pântano em que vai deixar Portugal, permitindo-lhe ainda a aprovação de um orçamento de Estado a que outros estarão vinculados, mesmo que nele não se revejam.

É a justiça salomónica de Marcelo!

Pedro Ochôa

QOSHE - A corrupção deu à Costa - Pedro Ochôa
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A corrupção deu à Costa

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13.11.2023

Há escassos dias, o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça disse, em voz alta e para quem o quis ouvir, que a corrupção está instalada em Portugal, nomeadamente no seio do aparelho de Estado.

Ainda estas declarações estavam a fazer eco junto de alguns sectores, não muitos, diga-se de passagem, porque há que desvalorizar o óbvio, e eis que o gabinete do primeiro-ministro é alvo de buscas e vários elementos da sua entourage são detidos ou simplesmente constituídos arguidos.

A Costa não restou outra alternativa que não a de apresentar a sua demissão e, consequentemente, a de todo o governo que ainda chefia, demissão esta que foi prontamente aceite por Marcelo, se bem que apenas verbalmente.

Podemos admitir, pelo menos até prova em contrário, que Costa esteja inocente da prática de qualquer acto de corrupção, mas o simples facto de estar a ser investigado na mais alta magistratura judicial do País, recaindo sobre ele suspeitas de envolvimento neste processo-crime, é motivo suficiente para que se afaste, o mais depressa possível, dos meandros da governação.

Acresce que as suspeitas do ministério público não estão direccionadas para um ministério de somenos importância, mas sim para o próprio gabinete do primeiro-ministro, sendo da exclusiva responsabilidade deste tudo quanto lá se passa.

Quando o centro........

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