Olhemos para os programas – e histórico – dos partidos e coligações para avaliarmos as seguintes questões. Em primeiro lugar, a definição dos objectivos prioritários. Em segundo lugar, as escolhas de instrumentos para alcançar aqueles objectivos. Adiante-se, já, que a generalidade dos instrumentos defendidos pelo BE e PCP são contraproducentes, pelo que não interessa se definem prioridades razoáveis se, depois, propõem medidas que produziriam resultados opostos aos desejados. Finalmente, é necessário perceber a capacidade de passar do papel para a acção, encarando esta capacidade quer em termos políticos quer técnicos.

O programa do PS tem o problema de não definir prioridades, falando de tudo, praticamente sem fazer verdadeiras escolhas. A AD apresenta “pilares fundamentais”, mas que se revelam demasiado extensos e que, estranhamente, não incluem a habitação de forma explícita. O Chega privilegia o combate à corrupção, a justiça e a segurança. Já a IL continua a insistir, e bem, em “Portugal a crescer”, que é a raiz da esmagadora maioria dos nossos problemas económicos e, daí, sociais.

Em relação à prioridade de crescimento, o PS é pouco ambicioso, pretende crescer apenas 2,0%, pelo que também não apresenta grandes instrumentos para o alcançar, porque isso é pouco mais do que a nossa economia é capaz actualmente. Já a AD é mais ambiciosa, quer alcançar um aumento do PIB de 3,4% em 2028, propondo um conjunto de medidas para o alcançar, mas que talvez não sejam suficientes, sobretudo no caso do optimismo de descer a taxa de desemprego para 5,0%.

Passando para a capacidade de concretizar os planos propostos, temos que olhar para o histórico. O PS tem revelado uma maior capacidade política, sobretudo na área da comunicação, onde é mestre e senhor. Já na capacidade técnica tem falhado demasiado, por vezes de forma mesmo incompreensível, como tem sido o caso do investimento público, executado muito abaixo do orçamentado, mesmo nos últimos anos em que nem tem havido a desculpa da falta de verbas. Na habitação, a divergência entre as metas definidas e as alcançadas não podia ser mais gritante.

Os partidos que compõem a AD têm um histórico mais favorável na capacidade técnica, mas têm revelado falhas graves na capacidade política que, demasiadas vezes, colocam em causa a concretização, como foi o caso da insistência absurda em “ir para além da troika”.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

QOSHE - Prioridades políticas e capacidades técnicas - Pedro Braz Teixeira
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Prioridades políticas e capacidades técnicas

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16.02.2024

Olhemos para os programas – e histórico – dos partidos e coligações para avaliarmos as seguintes questões. Em primeiro lugar, a definição dos objectivos prioritários. Em segundo lugar, as escolhas de instrumentos para alcançar aqueles objectivos. Adiante-se, já, que a generalidade dos instrumentos defendidos pelo BE e PCP são contraproducentes, pelo que não interessa se definem prioridades razoáveis se, depois, propõem medidas que produziriam resultados opostos aos desejados. Finalmente, é necessário perceber a capacidade de passar do papel para a acção, encarando esta capacidade quer em termos políticos quer........

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