Para lidar com as alterações climáticas, há várias soluções que têm sido avançadas, sem pensar devidamente na questão – fundamental – de preparar os eleitores para elas, quer através de abordagens pedagógicas, quer através de atender às questões de quem paga a factura.

Esta falta de cuidado redundou na revolta dos “coletes amarelos” em França e, em versão nacional “brandos costumes”, nas petições e protestos contra as mudanças no IUC, que levaram ao recuo do governo.

Uma das ideias que alguns ambientalistas têm sugerido é a do decrescimento, tudo indica sem conhecer as suas implicações económicas e, por isso, sem qualquer consciência das dificuldades políticas em a concretizar.

O decrescimento significa passarmos a ter um Produto Interno Bruto (PIB) que diminui em vez de crescer, como é hábito. Só como aperitivo, é interessante notar que sempre que temos uma recessão temos decrescimento, para começarmos a ter noção do que aquela ideia implica.

Claro que, para termos decrescimento em termos sustentados, teremos que ter uma redução sucessiva do horário de trabalho a par de – elemento crucial – uma redução sustentada dos salários. Convém esclarecer que a semana dos quatro dias não serve, porque não traz diminuição do rendimento. É essencial que haja esta queda, para que haja redução do consumo e da produção de gases de efeito estufa.

Por seu turno, uma redução do PIB trará menos receitas para o Estado, que terá que gastar menos em saúde, ensino, pensões, etc. Para além disso, para impedir que menos PIB não conduza a uma dívida explosiva, não mais será possível haver défices públicos, sendo imperativo ter excedentes orçamentais todos os anos.

Há outras ramificações económicas, sobretudo no mercado de capitais que não vou detalhar, porque estas me parecem suficientemente assustadoras. Os ambientalistas estão preparados para explicar aos eleitores que decrescimento implica passar a ganhar menos e a haver cortes na saúde, nas pensões e em múltiplos serviços públicos?

Não basta achar que se tem razão. Em democracia é necessário convencer os eleitores e não adianta insultá-los nem achar que são uns brutos. Estou convicto de que para chegar às emissões zero em 2050 há grandes obstáculos tecnológicos a ultrapassar, questões económicas de grande complexidade a resolver, mas, acima de tudo, dificuldades políticas de primeira grandeza.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

QOSHE - Decrescimento? - Pedro Braz Teixeira
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Decrescimento?

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15.12.2023

Para lidar com as alterações climáticas, há várias soluções que têm sido avançadas, sem pensar devidamente na questão – fundamental – de preparar os eleitores para elas, quer através de abordagens pedagógicas, quer através de atender às questões de quem paga a factura.

Esta falta de cuidado redundou na revolta dos “coletes amarelos” em França e, em versão nacional “brandos costumes”, nas petições e protestos contra as mudanças no IUC, que levaram ao recuo do governo.

Uma das ideias que alguns ambientalistas têm sugerido é a do decrescimento, tudo indica sem conhecer as suas implicações........

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