Finalizamos hoje o exercício dos últimos artigos, identificando alguns dos domínios das preocupações dos cidadãos, preocupações que precisam de respostas claras.

Precisamos de saber como vamos cuidar, educar, tratar e cuidar.

Não é possível que os sistemas públicos de educação e saúde vivam em tumulto permanente e que o sistema de cuidados seja estruturado a partir de instituições de “boa vontade” e, ao mesmo tempo, discorrer sobre o elevador social. Assim, não existirá qualquer elevador social que resista.

Vivemos décadas de melhorias incrementais até chegarmos às rupturas que conhecemos. Não é mais possível optarmos sem compromissos claros, calendarizados e mensuráveis. É o que esperamos que nos apresentem, sem delongas. Precisamos de propostas claras e precisamos de avaliar quais são mais, ou menos, inclusivas, quais têm maior vocação de perenidade e estabilidade.

Há décadas que é conhecida a tendência para a diminuição de forma acentuada da população portuguesa. Convirá saber quais as opções de políticas que vão ser tomadas em face desta realidade inexorável.

Vamos criar condições para que os largos milhares de portugueses que todos os anos emigram deixem de o fazer? E que opções e com que calendário de concretização? Vamos continuar a investir em infraestruturas dimensionadas para uma população que não vamos ter, ou vamos investir para dar melhor qualidade de vida a uma população idosa em número crescente?

Vamos continuar a entender o turismo como um sector económico prioritário, apesar de não termos pessoas para utilizar os equipamentos, não termos pessoas para neles trabalharem e não produzirmos o que neles se consome?

Vamos continuar a receber imigrantes que não integramos, que não tratamos como iguais e que utilizamos para perpetuar modelos económicos e relações laborais característicos de outras geografias? Ou vamos ter outras opções, mais conformes ao nosso ordenamento constitucional?

Certamente que outros domínios das nossas preocupações se poderiam enunciar, sendo que em todos eles são necessárias propostas e opções claras. Propostas e opções que sendo democraticamente diversas ganhariam, em cada uma a seu modo, ter como orientação fundamental não deixar ninguém para trás.

Não o fazer é abrir a porta aos que podem prometer tudo a todos porque sabem que não serão chamados à sua concretização. Precisamos de propostas que nos motivem e mobilizem para o futuro, porque, como escreveu e cantou Luiz Goes, em 1972, “É preciso acreditar”.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

QOSHE - “É preciso acreditar” (IV) - Luís Parreirão
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“É preciso acreditar” (IV)

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19.02.2024

Finalizamos hoje o exercício dos últimos artigos, identificando alguns dos domínios das preocupações dos cidadãos, preocupações que precisam de respostas claras.

Precisamos de saber como vamos cuidar, educar, tratar e cuidar.

Não é possível que os sistemas públicos de educação e saúde vivam em tumulto permanente e que o sistema de cuidados seja estruturado a partir de instituições de “boa vontade” e, ao mesmo tempo, discorrer sobre o elevador social. Assim, não existirá qualquer elevador social que resista.

Vivemos décadas de melhorias incrementais até chegarmos às rupturas que conhecemos. Não........

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