Este parece ser um país a duas velocidades. Onde o presidente da República ouve os partidos com vista à indigitação de um primeiro-ministro, antes da conclusão da contagem dos votos, onde o líder do PS se autoproclama líder da oposição, antes da totalidade dos votos contados, e o cabeça de lista da AD se considera primeiro-ministro, embora esteja praticamente empatado com os socialistas e os resultados do voto da emigração possam alterar as contas. O cenário é pouco provável e isso explica, talvez, as tomadas de posição anteriores.
Mas porque temos de esperar tanto tempo para conhecer o veredito dos portugueses a viver no estrangeiro? Na era das novas tecnologias, num Mundo em que quase tudo é permitido por obra da evolução da ciência, parece completamente anacrónico termos tido eleições no dia 10 de março - na verdade, muitos portugueses foram às urnas uma semana antes, graças ao voto antecipado - e só quase duas semanas depois tenhamos conhecimento do resultado final das eleições.
O mundo tecnológico avança, algumas vezes até de forma assustadora, contudo o vento da mudança tarda a chegar ao escrutínio do ato eleitoral fora do continente e ilhas. Continuamos a atuar como no outro século, com os boletins enviados via postal de várias partes do planeta onde vivem portugueses.
O que é feito das propostas para o voto digital, que devia ser testado em 2023? Nada acontece. Não quer isto dizer que o voto eletrónico seja a solução para o problema, pois o voto postal seria mantido, de forma a que ninguém ficasse impossibilitado de participar nas eleições. O processo seria implementado com as maiores cautelas, de modo a não fragilizar o sistema eleitoral e evitar impugnações que colocassem em causa a democracia. Cautelas, sim. Todas, para que o sistema seja inatacável. Imobilismo, não.