Francisco, o Papa, continua a dar passos no caminho de tornar a Igreja Católica espaço de acolhimento de todos, segundo a doutrina do Evangelho, o seu guião tantas vezes deturpado ou, simplesmente, ignorado. Não é preciso professar a doutrina católica, podemos até ser agnósticos e, mesmo assim, torna-se difícil ficar indiferente aos gestos do Papa. O documento publicado no Vaticano, segunda-feira, é apenas mais um sinal no sentido da construção de uma Igreja que acolhe em vez de dividir, de afastar, de estigmatizar.

Há um episódio, e acompanha-me desde criança, que me foi contado inúmeras vezes como exemplo de rejeição, de expulsão, de castigo pelo “pecado”. Uma mulher católica teve um filho fora do casamento.

Estávamos no final do anos 60, e essa mulher, católica e algo ingénua, acreditou que tudo podia continuar na mesma. Como se não tivesse transgredido, como se o facto de ter “concebido em pecado” estivesse livre de castigo. Pouco depois do parto, foi à comunhão, numa missa de domingo, na paróquia da sua aldeia. O padre, num gesto de crueldade, perante os seus fiéis, mandou-a de volta, recusando administrar-lhe a comunhão. Não imagino maior humilhação. O Papa Francisco, sem dúvida, repudiaria. E é esta a matriz do exercício do Papa. Agora, permite que os homossexuais recebam a bênção, sem confundir termos, pois não é do matrimónio que falamos; partilha a mesa com os pobres dos mais pobres, lava os pés na cerimónia pascal aos sem-abrigo e pede, todos os dias, tréguas na guerra. Mais: a ele devemos o levantar do véu que cobria os crimes da pedofilia na Igreja.

Se isto não é verdadeiramente revolucionário, não sei a que poderemos chamar revolução. Francisco tem vindo a alertar-nos, sem meias palavras, e em textos doutrinais, que o Mundo regride a uma velocidade inimaginável. Este homem que chegou, homenageou e seguiu verdadeiramente o exemplo de Jesus vai fazer-nos falta.

QOSHE - Francisco vai fazer-nos falta - Paula Ferreira
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Francisco vai fazer-nos falta

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20.12.2023

Francisco, o Papa, continua a dar passos no caminho de tornar a Igreja Católica espaço de acolhimento de todos, segundo a doutrina do Evangelho, o seu guião tantas vezes deturpado ou, simplesmente, ignorado. Não é preciso professar a doutrina católica, podemos até ser agnósticos e, mesmo assim, torna-se difícil ficar indiferente aos gestos do Papa. O documento publicado no Vaticano, segunda-feira, é apenas mais um sinal no sentido da construção de uma Igreja que acolhe em vez........

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