A proteção da identidade de género chegou às escolas. E tal medida, em vez de ser olhada como uma porta aberta para acabar com o sofrimento de muitas crianças e adolescentes, está a ser transformada num pequeno cavalo de batalha pelos setores mais conservadores da sociedade portuguesa. Há já a correr uma petição, com milhares de subscrições, a pedir o fim da possibilidade de os alunos decidirem que casa de banho pretendem usar nas escolas. Muitos olham para esse poder de escolha como uma ameaça à intimidade dos seus próprios filhos.
Neste como noutros assuntos, parece, o alarme é claramente excessivo. Os alunos, além de poderem escolher a casa de banho, podem também decidir por que nome devem ser tratados na escola. Olho para estas medidas como um salutar sinal de tolerância, capaz de estancar o sofrimento de tantos jovens, desconfortáveis com o seu corpo, vítimas da maior falta de empatia dos pares. Balneários escolares, todos os que por lá passaram sabem, podem ser verdadeiros locais de tortura - sobretudo para pessoas que não se enquadram nos cânones da dita normalidade.
O alarme social que esta disposição legal está a provocar é desnecessário, como facilmente se percebe pela leitura da reportagem feita na Escola Básica e Secundária Frei João, em Vila do Conde. O que tanto alarido está a causar foi implementado naquele estabelecimento de ensino com extrema naturalidade. Logo se percebe pelo título: “Escola com casas de banho sem género teve mudança pacífica”. Ao contrário do que muitos querem fazer crer, sabe-se lá porquê, ninguém é obrigado a ir à casa de banho do sexo oposto. O que se fez em Vila do Conde foi “resolver o problema de um aluno transgénero que não se sentia bem na casa de banho dos rapazes e, quando tentava entrar no das meninas, a funcionária não deixava”. Como é evidente, terão de ser criados regulamentos. Mas já valerá a pena insistir, remar contra a maré, para que os casos de bullying diminuam.