Yanis Varoufakis, o ex-ministro das Finanças grego ao tempo de intervenção da troika, foi banido da Alemanha. Está impedido de entrar no país, e a censura estende-se a possíveis participações em encontros mesmo por videoconferência. Em questão as suas opiniões em defesa da causa palestiniana. Nos Estados Unidos, os republicanos admitem pedir a intervenção militar para pôr fim aos acampamentos nas universidades, onde estudantes contestam o papel da Casa Branca no conflito de Gaza.

Em Portugal, um grupo de conservadores deseja restaurar o papel da família, nem que para isso seja preciso criar o estatuto de dona de casa. Direitos como o aborto, o casamento homossexual, a lei da eutanásia são cada vez mais questionados. Crescem os que colocam no mesmo plano o 25 de Novembro e o 25 de Abril, desvalorizando, com estas cínicas manobras, os 48 anos da repressiva ditadura. E a proposta do presidente da República da civilizada reparação histórica aos povos das antigas colónias portuguesas - feita, é certo, num contexto desadequado - é vista, por alguns setores, como uma traição à pátria.

Ao invés de olharmos para o futuro numa perspetiva de progresso e do bem-estar de todos, estamos a fazer marcha atrás - e a uma velocidade perigosa, atropelando conquistas que julgávamos intocáveis.
Afinal, somos muitos a descobrir que o caminho corre o risco de se inverter. Na passada quinta-feira, no entanto, milhares de portugueses, em todo o país, saíram à rua dando um sinal claro: regresso ao passado, jamais. Reformados, trabalhadores, casais com crianças pela mão, famílias tradicionais e das outras, e muitos, muitos jovens na rua em defesa do que a liberdade nos trouxe. A pôr de lado a ideia de que a memória se está a perder, apesar de nas escolas, como alertou a historiadora Clara Serrano, os manuais remeterem cada vez mais a Revolução dos Cravos a uma insignificância. Abril continua vivo.

QOSHE - A resposta está na rua - Paula Ferreira
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A resposta está na rua

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29.04.2024

Yanis Varoufakis, o ex-ministro das Finanças grego ao tempo de intervenção da troika, foi banido da Alemanha. Está impedido de entrar no país, e a censura estende-se a possíveis participações em encontros mesmo por videoconferência. Em questão as suas opiniões em defesa da causa palestiniana. Nos Estados Unidos, os republicanos admitem pedir a intervenção militar para pôr fim aos acampamentos nas universidades, onde estudantes contestam o papel da Casa Branca no conflito........

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