O ano de 2023 termina carregado de razões para o pessimismo. Do relatório sobre abusos sexuais na Igreja à degradação de serviços públicos essenciais, passando pela crise inflacionista e, nas últimas semanas, pela queda do Governo e a polémica cunha que ameaça a credibilidade do presidente da República, não faltam ingredientes que se misturam numa narrativa de desconfiança que toca diversas instituições. No plano internacional, destacam-se os dias sangrentos em Gaza, enquanto a Ucrânia vai saindo do palco mediático sem que se perspetive uma solução para o conflito.

Quando o cinzentismo dos dias domina, torna-se particularmente inspirador ouvir quem escolhe a esperança. Na sua discrição serena, José Tolentino Mendonça, poeta, cardeal e teólogo, cultiva uma visão de convergência em que a justiça, a dignidade e a cultura sejam caminhos possíveis para toda a humanidade. Vencedor do Prémio Pessoa, de imediato anunciou que os 60 mil euros atribuídos seriam entregues a uma instituição de solidariedade.

A esperança não é uma aposta cega, a atitude de quem fica imóvel aguardando que o futuro venha apesar de tudo. A esperança dá trabalho, inquieta, obriga a arregaçar as mangas e a deitar mãos à obra. Não é sequer sempre luminosa e muitos dos que se alimentam dela passam longos períodos da vida a escorregar de escuridão em escuridão.

Em tempos de profunda complexidade, é essencial acreditar no poder transformador da ação. Sem deixar que as receitas gastas nos façam desistir de procurar novas soluções. Em todos os setores e instituições, celebrando a utopia de uma outra possibilidade de sermos humanos.

QOSHE - Escolher a esperança - Inês Cardoso
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Escolher a esperança

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17.12.2023

O ano de 2023 termina carregado de razões para o pessimismo. Do relatório sobre abusos sexuais na Igreja à degradação de serviços públicos essenciais, passando pela crise inflacionista e, nas últimas semanas, pela queda do Governo e a polémica cunha que ameaça a credibilidade do presidente da República, não faltam ingredientes que se misturam numa narrativa de desconfiança que toca diversas........

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