Esta crise veio trazer de novo a aposta no Interior para a agenda estratégica do país. O interior representa de facto uma nova oportunidade de relançamento da economia e de adaptação a uma nova filosofia de vida que a recente pandemia veio trazer. Mas significa também a necessidade de ter uma visão clara de qual deve ser o foco que deve ser colocado do ponto de vista estratégico em termos de investimento e fixação de capital e de pessoas. Esta tem que ser uma aposta clara e focada. Por isso, exemplos de sucesso como o de Bragança e do Fundão, entre outros, devem ser considerados uma referência para o futuro. No interior tradição e inovação serão a chave de um futuro com mais coesão e competitividade.

As políticas públicas de aposta no desenvolvimento estratégico do território, muito associadas à dinâmica dos fundos comunitários e ao trabalho em rede protagonizado pelas áreas metropolitanas e comunidades intermunicipais, em articulação com universidades e associações empresariais, têm sido importantes para reforçar os níveis de inteligência coletiva das diferentes áreas regionais e acompanhar as tendências estratégicas produzidas e disseminadas por entidades de referência como a Comissão Europeia e a OCDE. A aposta em projetos mobilizadores focados em áreas estratégicas de criação de valor deverá ser uma via central para o reposicionamento estratégico do interior no quadro competitivo nacional.

Quando se analisam, contudo, as apostas estratégicas em termos de especialização económica assumidas pelas diferentes áreas do território vem ao de cima a falta de coordenação e articulação, absolutamente centrais para poder assumir opções claras em termos de captação de investimento e fixação de capital social. De Trás-os-Montes ao Alentejo, passando pela zona da Serra da Estrela, existe uma falta evidente de aposta no capital e no talento como os enablers estratégicos essenciais para o desenvolvimento de uma nova agenda competitiva com efeito global. E também aqui os projetos inovadores poderão ser uma plataforma dinâmica e colaborativa de atração de talento e de investimento para dar uma nova dinâmica estratégica ao desenvolvimento do interior.

Impõe-se a aposta num novo contexto e conceito de comunidades inteligentes, focadas na inovação e criatividade. Nunca como agora foi fundamental que se definisse uma coordenação clara entre poderes públicos e entidades privadas em sede da especialização assumida para cada território e a partir daí sinalizar um programa claro de criação de condições de contexto positivo para a captação de investimento e a fixação de talentos no interior, O caso francês, com os pólos de competitividade e de Itália com os distritos industriais é absolutamente exemplar nesta área.

É preciso perceber que a aposta no Interior não se faz por decreto. O papel das políticas públicas é central na orientação estratégica das opções que devem ser feitas e terá que haver por parte dos diferentes atores do território – municípios, universidades e institutos politécnicos, associações empresariais, centros de inovação, entre outros – uma definição clara das áreas de especialização estratégica para as quais devem ser sinalizados os esforços colaborativos de captação de investimento e fixação de recursos humanos e talentos. Se esta não for a estratégia, continuaremos a assistir a uma competição desenfreada e sem qualquer racionalidade ao longo do território pela mesma especialização estratégica. Por isso é que a inovação inteligente será a grande pedra de toque para um interior mais competitivo.

QOSHE - A aposta no Interior - Francisco Jaime Quesado
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A aposta no Interior

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11.04.2024

Esta crise veio trazer de novo a aposta no Interior para a agenda estratégica do país. O interior representa de facto uma nova oportunidade de relançamento da economia e de adaptação a uma nova filosofia de vida que a recente pandemia veio trazer. Mas significa também a necessidade de ter uma visão clara de qual deve ser o foco que deve ser colocado do ponto de vista estratégico em termos de investimento e fixação de capital e de pessoas. Esta tem que ser uma aposta clara e focada. Por isso, exemplos de sucesso como o de Bragança e do Fundão, entre outros, devem ser considerados uma referência para o futuro. No interior tradição e inovação serão a chave de um futuro com mais coesão e competitividade.

As políticas públicas de aposta no desenvolvimento estratégico do território, muito associadas à dinâmica dos fundos comunitários e ao trabalho em rede protagonizado pelas áreas........

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