Todos concordarão com a necessidade premente e urgente de se reformar, reestruturar, e deve mesmo dizer-se, de refundar o sistema de saúde português. O diagnóstico está mais que feito, os problemas praticamente todos identificados e as múltiplas e possíveis soluções estão também sobejamente trabalhadas e apresentadas.

Falta mesmo, agora, é iniciar o processo e passar a fazer acontecer, o que muito provavelmente irá ocorrer a partir de 10 de março, data em que com toda a certeza Portugal vai passar a contar com um novo governo com muita vontade de trabalhar e melhorar as condições existentes.

Um fator primordial e que em nenhuma circunstância poderá ser menosprezado é a escolha dos agentes que, aos mais diversos níveis, irão operar a transformação do sistema de saúde.

O SNS não pode ser uma correia de transmissões onde o essencial se perde e a rapidez se dissolve em burocracias redondas e inúteis. Salvar o SNS também é agilizar procedimentos, responsabilizar lideranças intermédias, premiar o mérito e quebrar barreiras que não são mais que “quintinhas” de agendas pessoais e manutenção de clientelas políticas. Tirar os pisa-papéis é criar uma dinâmica processual que aliviará práticas tendo sempre em vista o interesse do utente. As máquinas operacionais do SNS não podem existir para se servirem a elas próprias, nem para fomentarem compartimentos estanques. Os diversos serviços que compõem o hoje complexo e burocrata SNS devem ser agilizados sem perderem o foco nas boas práticas prudentes e rigorosas. Olear toda a máquina e retirar-lhe peso burocrático é meio caminho andado para libertar recursos, premiando e valorizando a virtude de quem contribui de forma efetiva para o resultado final. É também esta zona menos pública do SNS que deve ser olhada e mexida com coragem tendo em conta o superior interesse público.

Os novos tempos vão focar toda a atenção no interesse do cidadão e descartarão aqueles que, para se manterem, nada fazem acontecer e que frequentemente dizem: “isso é muito difícil”, “isto não é possível fazer-se por ser muito complicado”, “tem de se nomear uma comissão de estudo e análise”, “faça um requerimento”... estes pisa-papéis que inventam e alimentam burocracias, atravessam gerações de governos e que estão sempre do lado de quem ganha, que estão “sempre-em-pé”, que só pensam neles e nas suas coutadas. Sempre vergados ao poder político com uma única intenção: servirem-se a eles próprios. Acomodados, a criarem raízes nos serviços, e que nada mais já acrescentam a não ser a hipocrisia de só quererem que tudo fique na mesma a começar pelo seu lugar.

Estes pisa-papéis deverão definitivamente procurar outras paragens que não os serviços do sistema de saúde.

QOSHE - Um novo SNS é preciso... mas sem pisa-papéis! - Eurico Castro Alves
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Um novo SNS é preciso... mas sem pisa-papéis!

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14.02.2024

Todos concordarão com a necessidade premente e urgente de se reformar, reestruturar, e deve mesmo dizer-se, de refundar o sistema de saúde português. O diagnóstico está mais que feito, os problemas praticamente todos identificados e as múltiplas e possíveis soluções estão também sobejamente trabalhadas e apresentadas.

Falta mesmo, agora, é iniciar o processo e passar a fazer acontecer, o que muito provavelmente irá ocorrer a partir de 10 de março, data em que com toda a certeza Portugal vai passar a contar com um novo governo com muita vontade de trabalhar e melhorar as condições existentes.

Um fator primordial e que em nenhuma circunstância poderá ser menosprezado é a........

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