Ensaios clínicos são estudos de investigação científica que têm como objetivo avaliar a eficácia e a segurança de um medicamento.

Determinantes para o desenvolvimento de novos tratamentos e para a melhoria da saúde humana, representam um avanço vital na evolução da medicina, contribuindo para o desenvolvimento de tratamentos inovadores e para o aperfeiçoamento do Sistema de Saúde em Portugal. Ao oferecer aos doentes portugueses a oportunidade de acederem a tratamentos de última geração de forma mais rápida, antes mesmo que estes se tornem amplamente disponíveis, beneficiam não só quem participa diretamente, mas colocam também o nosso país num lugar de destaque na pesquisa médica avançada.

A participação de Portugal nestes estudos representa um profundo impacto no desenvolvimento científico nacional, e no aumento do prestígio internacional da nossa comunidade científica, na medida em que envolve hospitais, universidades e médicos investigadores. Não menos despiciente é ainda o fato dessa participação acarretar benefícios económicos para o nosso país, na medida em que conduz a grandes investimentos por parte das empresas farmacêuticas

Portugal não pode, por isso, perder esta corrida e tem de aumentar significativamente os seus ensaios clínicos. Calcula-se que entre 2019 e 2022, cerca de três mil doentes por ano tiveram acesso rápido a novos medicamentos, número que poderia ter duplicado caso se tivessem atingido os objetivos de recrutamento de doentes definidos para aquele período. Importa mencionar ainda que em 2022, 13% dos centros de investigação não conseguiram angariar doentes, sendo que a taxa de recrutamento, face ao objetivo, foi inferior a 50%.

Ora neste capítulo, como se constata, Portugal está ainda muito atrasado tendo vindo a perder competitividade quando comparado com outros países da União Europeia, como seja a Bélgica, que com uma população muito semelhante à nossa, tem cinco vezes mais doentes envolvidos em ensaios.
É por isso necessário, a bem da saúde dos nossos doentes, que se passe rapidamente para a linha da frente.

De entre os principais constrangimentos identificados para atingir um maior número de ensaios, destaca-se:
- a falta de tempo por parte dos médicos para se dedicarem à investigação clínica;
- a elevada demora das autoridades reguladoras, afogadas numa burocracia inútil.

Não é de todo aceitável que nos centros de investigação, a morosidade dos processos, que incluem desde a negociação dos contratos, à ativação, até à inclusão do primeiro doente, em 2022, tenham demorado em média 293 dias. Relacionada com esta falta de competitividade, estimou-se que no ano 2022, terão ficado por realizar em Portugal 210 ensaios clínicos.

Por tudo o mais, o novíssimo SNS que se avizinhará necessariamente nos próximos tempos, deverá contar com autoridades modernas, menos burocráticas, menos cristalizadas, mais eficientes e independentes, onde os seus funcionários, dignamente remunerados, poderão cumprir com maior eficácia a sua missão.