Um dos graves problemas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é a falta crónica de disponibilidade de camas nos diversos serviços hospitalares, sendo por isso frequente verem-se camas nos corredores dos serviços de urgência, onde são praticados atos médicos que ferem a intimidade e devassam a privacidade e a dignidade dos doentes.

A ocupação de camas de internamento hospitalar por “casos sociais” - pacientes que já não necessitam de tratamento médico diferenciado - é um desafio significativo que afeta diretamente a eficiência e a capacidade de resposta do sistema de saúde. Quando associado à falta de apoio por parte dos serviços de assistência social, transforma-se num problema ainda mais premente, colocando em evidência lacunas críticas no suporte aos doentes, e na gestão dos recursos hospitalares. A Segurança Social tem um papel fundamental na abordagem de questões sociais nos hospitais, e a sua ausência, ao não ajudar a encontrar soluções, leva à ocupação desnecessária de camas e contribui perversamente para um ciclo prejudicial, onde os pacientes que poderiam ser atendidos fora do ambiente hospitalar permanecem ocupando recursos valiosos.

Um dos principais desafios é entender a natureza desses “casos sociais” que ocupam estas camas, que podem incluir desde pacientes sem morada certa, até outros que enfrentam problemas de dependências, que lidam com problemas de saúde mental, ou até idosos a quem as famílias desprezam e abandonam. A assistência social, ao não responder adequadamente a estas necessidades, contribui para a persistência desses problemas, e agrava a pressão sobre as instituições de saúde. Sabemos que os profissionais dos serviços sociais que trabalham nos hospitais do SNS diariamente fazem tudo o que podem para minimizar esta realidade, mas quase sempre ficam muito aquém das suas próprias expectativas. Por outro lado, a falta de comunicação efetiva entre os serviços de saúde e os serviços sociais tem conduzido a dificuldades no acompanhamento destas pessoas. A coordenação insuficiente entre estas entidades tem resultado em “casos” repetidamente admitidos em hospitais, sem que sejam abordadas as causas fundamentais do seu estado social ou da sua saúde.

Por esse motivo, a formação e sensibilização dos profissionais de saúde e da assistência social devem ser incentivadas, e defendida uma colaboração interdisciplinar suportada por políticas que promovam uma abordagem integrada que lide com estas situações, e garanta que os pacientes recebem a necessária assistência para a sua reintegração na sociedade.

É por isso imperativo que a assistência social responda de maneira eficaz, implementando programas preventivos, estabelecendo parcerias colaborativas e coordenando esforços com os serviços de saúde. Aqui, sim! É fundamental o investimento público e é estratégico e imprescindível o papel do Estado. Só assim será possível enfrentar de maneira abrangente o desafio da ocupação desnecessária de camas hospitalares, e proporcionar um atendimento mais eficiente e humano aos nossos doentes.

QOSHE - A Segurança Social… qual Segurança Social? - Eurico Castro Alves
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A Segurança Social… qual Segurança Social?

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27.02.2024

Um dos graves problemas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é a falta crónica de disponibilidade de camas nos diversos serviços hospitalares, sendo por isso frequente verem-se camas nos corredores dos serviços de urgência, onde são praticados atos médicos que ferem a intimidade e devassam a privacidade e a dignidade dos doentes.

A ocupação de camas de internamento hospitalar por “casos sociais” - pacientes que já não necessitam de tratamento médico diferenciado - é um desafio significativo que afeta diretamente a eficiência e a capacidade de resposta do sistema de saúde. Quando associado à falta de apoio por parte dos serviços de assistência social, transforma-se num problema ainda mais premente, colocando em evidência lacunas críticas no suporte........

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