A perceção generalizada de um caos instalado no Serviço Nacional de Saúde (SNS) gera um sentimento de desconforto que nos leva a questionar as causas e a forma como chegamos a esta situação. Os atuais responsáveis governamentais pela área da saúde, ministro, secretária de Estado e diretor-executivo, para além de médicos, têm competência e conhecimento profundo da área hospitalar, o que torna ainda mais constrangedor a deriva negativa a que assistimos, com algum sentimento de frustração por parte dos próprios. Se somarmos a tudo isto o caminho da cada mais evidente “funcionalização” da classe médica, defendida sobretudo pela sua representação sindical mais ortodoxa, temos criado todo um contexto de expressão diária da Lei de Murphy, em que nos parece que os poucos que ainda mantêm a calma, quando todos os outros já perderam a cabeça, é porque ainda não se aperceberam da verdadeira dimensão do problema.

Nem durante a fase da troika se atingiu uma dimensão tão crítica como a atual, bem pelo contrário. Aliás, a redução das 40 para 35 horas semanais, um dos muitos exemplos da miríade de “pequenas cedências” ocorridas entre o final de 2015 e 2019, talvez explique uma parte desta imagem de degradação global de serviços públicos. O sucessivo, contínuo e por vezes quase invisível reportório de aceitação dos infindáveis cadernos reivindicativos mais radicais, que tiveram forte impacto no período temporal atrás referido, mostram agora o quanto foram erradas e para onde nos conduziram.

Ver um grupo dos média, que engloba valores históricos e seguros como o “Jornal de Notícias”, delapidar durante anos consecutivos o melhor dos seus ativos, deixando-o contaminar e fragilizar até ao ponto de colocar em causa a sua própria continuidade, é do domínio do incompreensível. Espero, muito sinceramente, tal como parte importante dos cidadãos portugueses, que um valor como o JN continue a fazer parte do nosso quotidiano por muitos e longos anos.

QOSHE - Difícil de entender - Emídio Gomes
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Difícil de entender

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15.12.2023

A perceção generalizada de um caos instalado no Serviço Nacional de Saúde (SNS) gera um sentimento de desconforto que nos leva a questionar as causas e a forma como chegamos a esta situação. Os atuais responsáveis governamentais pela área da saúde, ministro, secretária de Estado e diretor-executivo, para além de médicos, têm competência e conhecimento profundo da área hospitalar, o que torna ainda mais constrangedor a deriva negativa a que assistimos, com algum sentimento de frustração........

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