A Esquerda ainda não percebeu que perdeu as eleições de uma forma clara. Acontece que uma coisa foi evidente, viramos à Direita. Ninguém melhor do que o Bloco percebeu isso ao convidar toda a Esquerda, incluindo o Partido Socialista, para definir uma estratégia conjunta que vai passar pelo Parlamento e pela rua onde a conflitualidade irá aumentar. Será inevitável para voltar à rua e acabar com a paz social incentivando os sindicatos para se obter aquilo que não se conseguiu nas urnas.

No final da primeira semana, após os resultados eleitorais, tivemos oportunidade de ouvir as análises mais surrealistas sobre a possibilidade de governabilidade.

Os Açores, mais uma vez, mostraram que a determinação pode ajudar a moderar os setores mais radicais, como aconteceu com a abstenção do Chega, da IL e do PAN.

Claro está que, no plano nacional, as coisas serão mais difíceis, mas não se pode ignorar os eleitores do Chega e, nomeadamente, as gerações mais jovens que se sentem esquecidas nas políticas públicas. O PSD como líder de uma maioria terá de conjugar a exigência de protesto e de mudança com a possibilidade de se fazer algo de verdadeiramente diferente na política nacional. Consolidar o Estado social, permitir uma economia a crescer, descentralizar e desburocratizar a administração pública e consagrar a relevância internacional vai exigir um Governo forte, coeso e pequeno, permitindo fazer um combate que transforme Portugal.

Torna-se necessário adaptar a lei eleitoral às exigências dos nossos tempos. Não podemos ficar tanto tempo para permitir a instalação do Parlamento e a constituição de um novo Governo.

Luís Montenegro tem de responder às expectativas dos portugueses falando verdade e não esquecendo as contas certas. Se o souber fazer pode estar tranquilo. Quem derrubar o Governo talvez tenha a resposta em futuras eleições. Tudo parece apontar para que este novo Governo se possa aguentar quase até ao final de 2026. Aquando da aprovação do Orçamento para 2025, o próprio PS pode não estar interessado em abrir uma crise política. Depois terá a possibilidade de viver um ano de impossibilidade presidencial de dissolução do Parlamento.

Novas eleições talvez lá para 2027. Será que vamos ter novas aventuras? O PS vai aprender com a lição do PS francês que se tornou irrelevante quando abandonou o centro político que Macron soube capturar. O Livre vai perceber que a Direita democrática não vai ajudar a Esquerda a governar.

O que fica ao PSD? Saber que tem de conquistar o tal milhão de eleitores que, desiludido, votou na extrema-direita e perceber que tem aqui uma oportunidade de se reconciliar com os portugueses.

QOSHE - A ilusão da Esquerda - António Tavares
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A ilusão da Esquerda

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21.03.2024

A Esquerda ainda não percebeu que perdeu as eleições de uma forma clara. Acontece que uma coisa foi evidente, viramos à Direita. Ninguém melhor do que o Bloco percebeu isso ao convidar toda a Esquerda, incluindo o Partido Socialista, para definir uma estratégia conjunta que vai passar pelo Parlamento e pela rua onde a conflitualidade irá aumentar. Será inevitável para voltar à rua e acabar com a paz social incentivando os sindicatos para se obter aquilo que não se conseguiu nas urnas.

No final da primeira semana, após os resultados eleitorais, tivemos oportunidade de ouvir as análises mais surrealistas sobre a possibilidade de governabilidade.

Os Açores,........

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