Naquela madrugada límpida e serena, de 25 de Abril de 1974, a importância de uma mudança de sistema político assentava em três D: desenvolvimento, descolonização e democratização. As Forças Armadas, que tinham sido sempre o sustentáculo do regime que se convencionou chamar Estado Novo, impulsionadas pelo chamado Movimento dos Capitães, derrubaram a ditadura.

Naquele dia, conhecemos novos protagonistas que a História iria consagrar. Salgueiro Maia, Otelo ou Spínola. Cada um tinha o seu caminho. Salgueiro Maia, cuja coragem iria permitir a vitória do movimento. Otelo, cujo romantismo vai proporcionar os maiores equívocos durante o chamado Processo Revolucionário em Curso (PREC). António de Spínola, cuja vontade de protagonizar a mudança tinha começado em 1972 e que dava a confiança suficiente a Marcelo Caetano para evitar cair o poder na rua.
Dos três D, logo o da descolonização motivou as maiores divisões entre quem pretendia uma descolonização tranquila e quem pretendia uma descolonização de entrega. Estávamos em plena Guerra Fria e o tempo não era para romantismos. Ficamos por uma descolonização exemplar.

De seguida, tivemos de lutar para afirmar o D da democratização. Demorou algum tempo a acabar com as ideias, cujo melhor exemplo foram as FP 25 de Abril, de uma democracia popular com uma tutela militar. O 25 de novembro veio permitir consagrar uma ideia de democracia parlamentar inserida numa Europa solidária. Sobrou o D de desenvolvimento, que tem tido altos e baixos. Já motivou a entrada de auxílio financeiro externo às nossas finanças públicas por três vezes, mas também proporcionou a entrada na União Europeia (então CEE) com abundante fluxo de apoios comunitários. Terminada a irreversibilidade das nacionalizações, a economia assumiu um perfil de economia social de mercado e permitiu a consolidação de um Estado social que se preocupa com a coesão social e económica da nossa sociedade.

Cinquenta anos depois, há quem venha com saudosismos, mas os aspetos positivos dessa manhã são superiores aos negativos,

Certo é que temos sempre os extremos políticos a querer fazer o revisionismo da história contra a vontade popular expressa em eleições livres.

Abril significa liberdade, igualdade com equidade e solidariedade. Conseguir que exista na nossa sociedade um debate contraditório será sempre uma grande vitória de Abril.

Certo é que todos os dias temos novos desafios para cumprir os D da democratização e do desenvolvimento. Sabemos que já tivemos os D do défice, do desemprego e da dívida.
As Forças Armadas souberam adaptar-se aos novos momentos da vida mundial e a justiça deve saber evoluir no respeito da legalidade democrática.

Afinal, a festa continua a valer. Por isso, 25 de Abril, sempre.

QOSHE - 25 de Abril, sempre! - António Tavares
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25 de Abril, sempre!

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25.04.2024

Naquela madrugada límpida e serena, de 25 de Abril de 1974, a importância de uma mudança de sistema político assentava em três D: desenvolvimento, descolonização e democratização. As Forças Armadas, que tinham sido sempre o sustentáculo do regime que se convencionou chamar Estado Novo, impulsionadas pelo chamado Movimento dos Capitães, derrubaram a ditadura.

Naquele dia, conhecemos novos protagonistas que a História iria consagrar. Salgueiro Maia, Otelo ou Spínola. Cada um tinha o seu caminho. Salgueiro Maia, cuja coragem iria permitir a vitória do movimento. Otelo, cujo romantismo vai proporcionar os maiores equívocos durante o chamado Processo Revolucionário em Curso (PREC).........

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