A jornalista e apresentadora Paula Moura Pinheiro foi condecorada na semana passada pela Câmara Municipal de Lisboa com a medalha de mérito cultural, em agradecimento por mostrar “a grandeza e o alcance do melhor jornalismo”, disse Carlos Moedas. Não quero sobrecarregar a agenda de Paula Moura Pinheiro, mas as câmaras municipais por esse país fora deviam seguir-lhe o exemplo.

Falo com o entusiasmo de um convertido. Embora acompanhasse o trabalho de Paula Moura Pinheiro à distância, sabendo que a “Visita guiada” aí estava para a seguirmos, até este ano nunca tinha assistido ao programa com atenção.

Trata-se de verdadeiro serviço público: o entusiasmo, a capacidade de comunicação e a mestria de Paula Moura Pinheiro em entrevistar são contagiantes, como são a história e o património aos quais somos levados pela mão. É um país que se abre na televisão, um país que se desmultiplica, um nosso país que é mais nosso por causa de Paula Moura Pinheiro e da equipa da “Visita guiada”.

O programa fez em Março dez anos, e durante dez anos quase o ignorei, por razões que eu próprio desconheço. Talvez para me prejudicar ou por ser desajeitado em primeiras impressões. Isto podia resultar numa longa lamentação, mas prefiro que resulte num longo aleluia (já me confessei convertido): é que, descoberta agora a imensa qualidade do programa e o grande talento de Paula Moura Pinheiro, tenho centenas de programas por ver. E centenas de locais para visitar, museus para aprofundar, bares onde beber, igrejas por contemplar, recantos por descobrir.

Além do mais, não há no programa uma visão hagiográfica da história nem do país. Os sítios falam pela boca de Paula Moura Pinheiro. E falam como são: das ilhas do Porto à escravatura, passando por palácios, museus, instituições e ruas. Neste sentido, o património serve de pretexto para a História (e muito também para as histórias), nas suas mais variadas facetas.

Aposto que alguns convidados se exasperam com Paula Moura Pinheiro porque são todos muito eficazes. Imagino que ela puxe por eles, que ela os oriente sem contemplações: no fim, não há derivas, curiosidades fúteis ou desgoverno - há óptima comunicação, o que só se consegue tendo um sentido muito claro do que se quer entregar aos espectadores.

A décima quarta temporada vai agora no segundo episódio. Para trás, ficou um acervo único na televisão portuguesa e um registo impressionante do país. Obrigado, Paula Moura Pinheiro.

*O autor escreve segundo a antiga ortografia