Em 2015 vivíamos na “era PAFiana”, com todos os estrangulamentos socioeconómicos (e opressões) que advieram de uma política socialmente agressiva contra a maioria dos portugueses – maioria, sim, porque nesse tempo nos bancos foram injetados milhões de euros e os mais ricos engrossaram as suas fortunas. O Banif, o BCP, o BPI, a CGD, auferiram de mais de 7 mil milhões de euros, os demais portugueses, com uma taxa de desemprego à época de mais de 16%, tiveram de emigrar e viram os seus ordenados retraídos, com cortes brutais até nos subsídios de Natal e de férias. Foram sacrificados pensionistas, mesmo os que auferiam de pensões miseráveis e até a pessoas com necessidades especiais ou em grave risco social foram retirados ou diminuídos os parcos apoios que então tinham. Chamaram aos portugueses de “piegas”, disseram-lhes para “poupar adquirindo os alimentos mais baratos”, que vissem no “desemprego uma oportunidade” e até os mandaram emigrar - o que fizeram, sobretudo, milhares de jovens qualificados em áreas em que agora faltam quadros no nosso país, como a saúde. Em nome da “salvação económica” do país até se retiram feriados religiosos e políticos aos portugueses, salvação, essa, que nunca ocorreu, muito menos às mãos daquela coligação. Foi um período em que o líder do PSD nos consolava assim: “Os portugueses estão piores, mas o país, não”. Incorremos no risco deste regresso sociopolítico, precisamente por uma AD refletida pelos mesmos protagonistas políticos da PAF e pela mesma lógica neoliberal. A acrescer a isto, encabeça a coligação um líder que, não obstante negue a possibilidade de uma coligação com a extrema-direita para governar Portugal, nunca se opôs à coligação, fracassada e vergonhosa, dessa mesma coligação nos Açores. E é real esta ameaça alimentada conjuntamente pela sede de poder, por um lado, e por um espectro de populismo e demagogia que ameaçam a democracia portuguesa, num ano em que se assinalam os 50 anos do que nos legou Abril: Liberdade; Educação gratuita; Saúde tendencialmente gratuita; defesa da igualdade de género; do direito ao Trabalho condigno e com direitos; Habitação como direito e o direito ao Voto, consagrados por uma Constituição progressista e humanista.

Relembrar Abril não é uma questão de memória passada, mas sim de presente, e sobretudo de futuro - o futuro desejável, imprescindível e necessário e transgeracional para todos os portugueses.

E neste quadro atual de ameaças em várias frentes aos direitos humanos (é do que trata, sobretudo, a Constituição da República Portuguesa: de direitos humanos!), agravado por uma crise política com um governo reduzido a uma mera gestão administrativa, que é importante que todos nós vamos votar no dia 10 de março. Para também lembrar que haverá sempre gente a defender a Liberdade e a gritar “25 de Abril sempre”!

QOSHE - Eleições nos 50 anos de Abril - Sílvia Vasconcelos
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Eleições nos 50 anos de Abril

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18.01.2024

Em 2015 vivíamos na “era PAFiana”, com todos os estrangulamentos socioeconómicos (e opressões) que advieram de uma política socialmente agressiva contra a maioria dos portugueses – maioria, sim, porque nesse tempo nos bancos foram injetados milhões de euros e os mais ricos engrossaram as suas fortunas. O Banif, o BCP, o BPI, a CGD, auferiram de mais de 7 mil milhões de euros, os demais portugueses, com uma taxa de desemprego à época de mais de 16%, tiveram de emigrar e viram os seus ordenados retraídos, com cortes brutais até nos subsídios de Natal e de férias. Foram sacrificados pensionistas, mesmo os que auferiam de pensões miseráveis e até a pessoas com necessidades especiais ou em grave risco social........

© JM Madeira


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