Passou quase um mês desde a data em que decorreram, nas freguesias das Achadas da Cruz e Porto Moniz, os incêndios cuja memória certamente não se desvanecerá das mentes de todos quantos os viveram de perto.

A vida segue, dentro da normalidade possível, mas é impossível deitar para trás das costas a angústia vivida. A vida segue e o tempo é de tentar recuperar e reconstruir tudo quanto as chamas fustigaram de forma tão célere e crua.

É preciso, antes de mais nada, que se tenha a clara noção de que recuperar tudo quanto se perdeu implica solidariedade, entreajuda e trabalho de parceria entre todas as entidades públicas envolvidas. Implica motivar quem perdeu os seus bens e quem sofreu danos nas suas propriedades a querer reerguer-se, reerguendo o que foi destruído pelo fogo.

Durante este mês, decorreram e continuam a decorrer trabalhos muito importantes de apoio direto à população, nomeadamente o transporte de água potável para abastecimento da rede e ações diversas de limpeza e reparação de captações de água para consumo humano, canais de rega e veredas, sendo de destacar o contributo imprescindível dos funcionários municipais, em conjunto com as empresas envolvidas nas diferentes intervenções.

Falamos de danos materiais e psicológicos avultados. Mesmo que se conseguisse recuperar tudo o que de material se perdeu, e é preciso que se tenha a noção que é difícil que tal suceda, é necessário que se tenha sensibilidade para percebermos que, para quem perdeu as suas culturas, as semilhas ou as cenouras eram as que iam dar dinheiro por altura do Natal, as árvores de fruto perdidas foram as acompanharam o crescimento de quem as plantou ou as que foram “herdadas” com todas as memórias daí decorrentes.

Mais do que valor material perderam-se muitas, mesmo muitas, horas de trabalho e dedicação. É por esse motivo que quem agora está no terreno com a missão de efetuar levantamentos para futura disponibilização de apoios deve munir-se da sensibilidade necessária para perceber que, em muitos casos e para muitos dos que sofreram danos, as perdas não se resumem ao que, friamente, se possa avaliar ou observar.

Durante este mês, a Câmara Municipal de Porto Moniz, através do Gabinete criado para o efeito, esteve junto da população efetuando o levantamento dos prejuízos. Com base nos danos reportados por cerca de uma centena e meia de lesados, a autarquia avançou para a criação de um programa municipal que permita dar resposta ao mais variado leque possível de necessidades de quem neste momento precisa de recuperar o que perdeu.

É imprescindível não termos qualquer receio de explicar que a vontade de sermos céleres nos apoios não poderá nunca se sobrepor ao cumprimento dos procedimentos legalmente exigidos para a materialização das ajudas e é também importante que quem necessita de apoio para recuperar o que perdeu bata a todas as portas que forem surgindo e não abdique de nenhum apoio a que tenha direito. Tenho deixado bem vincada e não me canso de reforçar a ideia de que precisamos de todos para recuperarmos mais e mais depressa.

Felizmente os danos em habitações não foram tão avultados como poderiam ter sido (apenas uma habitação foi totalmente destruída), mas é importante que se perceba que o que para o coletivo é pouco significa ou significava muito para quem sofreu perdas.

É também muito importante que em consequência dos trágicos acontecimentos possam ser criados, por exemplo, incentivos à reconstrução de prédios devolutos, que de outra forma e noutras circunstâncias se manteriam nesta condição.

O levantamento dos prejuízos, efetuado no terreno, foi imprescindível para percebermos que apoios seriam os mais adequados para os apicultores, para os criadores de gado e para os muitos agricultores com prejuízos, não só nas culturas propriamente ditas, mas também em sistemas de regas, redes de proteção, muros de suporte, maquinaria e armazéns agrícolas.

Nesta, mais do que em qualquer outra circunstância, percebemos que a nossa gestão autárquica de proximidade e de escuta ativa é imprescindível. Neste que é um tempo, mais do que qualquer outro, de trabalho e de cooperação para que se possa ajudar a população a recuperar tudo o que for possível recuperar.

QOSHE - Tempo de recuperar - Emanuel Câmara
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Tempo de recuperar

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08.11.2023

Passou quase um mês desde a data em que decorreram, nas freguesias das Achadas da Cruz e Porto Moniz, os incêndios cuja memória certamente não se desvanecerá das mentes de todos quantos os viveram de perto.

A vida segue, dentro da normalidade possível, mas é impossível deitar para trás das costas a angústia vivida. A vida segue e o tempo é de tentar recuperar e reconstruir tudo quanto as chamas fustigaram de forma tão célere e crua.

É preciso, antes de mais nada, que se tenha a clara noção de que recuperar tudo quanto se perdeu implica solidariedade, entreajuda e trabalho de parceria entre todas as entidades públicas envolvidas. Implica motivar quem perdeu os seus bens e quem sofreu danos nas suas propriedades a querer reerguer-se, reerguendo o que foi destruído pelo fogo.

Durante este mês, decorreram e continuam a decorrer trabalhos muito importantes de apoio direto à população, nomeadamente o transporte de água potável para abastecimento da rede e ações diversas de limpeza e reparação de captações de água para consumo humano,........

© JM Madeira


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