Passada a euforia do Carnaval com malassadas e disfarces, uns premiados outros não, não posso deixar de referir o Baile da Casa do Povo de Nossa Senhora da Piedade que não só trouxe muita animação como confirmou a criatividade individual e colectiva: canecas de cerveja, índios e cowboys, Ferreros Rocher, Barbies, abelhas e apicultores terão sido os mais abonados do ponto de vista estético, não tendo, porém, faltado os maltrapilhos (no qual me incluo) sendo que todos, em conjunto, emprestaram uma alegria genuína à quadra. Ouvi falar de outros Carnavais em que as ruas se enchiam de mascarados que dançavam ao som dos batuques brasileiros até o raiar do sol. No entanto, a melhor parte foi reencontrar amigos de outros tempos e retomar conversas e confidências que o tempo não conseguiu mitigar.

E porque o amor também se celebrou neste segundo mês do ano e por entre concursos de poesia, ramos de rosas vermelhas, peluches rechonchudos, caixas de chocolates e jantares à luz de vela, nasceu o Matateu. O primeiro jerico desde 2013. Que alergria!! Por coincidência, nesse dia, o cliente que estava à minha frente na fila do supermercado, levava dois vasos de flores e duas caixas de chocolate. Não contive o sorriso, deixando a imaginação fluir, inventando um enredo rocambolesco e apimentado. Afinal e tal como diz Carlos Drummond de Andrade, o amor é estado de graça e com amor não se paga. No meu caso e apesar do orago me ter prometido um encontro romântico com um tal “j”, o serão do dia 14 foi passado em frente ao forno a cozer pão. Lá diz o povo que cada um tem o que merece e podem ter certeza de que pão da Sara é muito melhor que certos papos-secos que por aí andam. E por falar em comerinho e nesse pecado capital que é a gula, o mês terminou com o 1º Festival de Sopas, lá para os lados do Espírito Santo, projecto vencedor da Assembleia Municipal Jovem que visa promover os produtos da terra e o saber fazer que passa de geração em geração.

Retomada a ligação marítima entre ilhas, foram muitos os que aproveitaram este Fevereiro solarengo para estenderam as toalhas e/ou esticarem as pernas. Alguns optaram por um passeio pelo areal e apenas um reduzido número não resistiu ao sedutor convite do mar bonançoso. O que é certo é que a praia deixou de ser exclusividade das aves e das algas e, por momentos, já parecia a época alta. O movimento na Vila Baleira também aumentou, ouvindo-se à boca pequena piadas acerca desta invasão madeirense que, todavia, é bem-vinda e faz aumentar a movida citadina. Porém, e tal como em tempos recuados, fazem-se rezas para que chova. A terra arregoa. O verde torna-se amarelo. Os galhos vergam-se em direcção ao chão. As folhas quebradiças são levadas pelo vento e as flores desabrocham, encolhidas e ásperas. Hoje, como dantes, o poeta parece ter razão quando diz que esta ilha não pertence ao mundo.

QOSHE - Fevereiro parrudo - Cláudia Faria
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Fevereiro parrudo

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01.03.2024

Passada a euforia do Carnaval com malassadas e disfarces, uns premiados outros não, não posso deixar de referir o Baile da Casa do Povo de Nossa Senhora da Piedade que não só trouxe muita animação como confirmou a criatividade individual e colectiva: canecas de cerveja, índios e cowboys, Ferreros Rocher, Barbies, abelhas e apicultores terão sido os mais abonados do ponto de vista estético, não tendo, porém, faltado os maltrapilhos (no qual me incluo) sendo que todos, em conjunto, emprestaram uma alegria genuína à quadra. Ouvi falar de outros Carnavais em que as ruas se enchiam de mascarados que dançavam ao som dos batuques brasileiros até o raiar do sol. No entanto, a melhor parte foi reencontrar amigos de........

© JM Madeira


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