Ao escrever a última coluna de 2023, a sensação é próxima à do passageiro de uma montanha-russa que sabe que vai descer, desconhecendo a dimensão da descida, ou à do alpinista que já vislumbra o cume, estando-lhe vedada a perspetiva da paisagem. Até março do próximo ano, dificilmente abandonaremos essa vertigem. Trata-se de um tempo pré-pivotal, isto é, de um momento em que ainda não vemos mas estamos prestes a ver. Será a partir do que vier a seguir que tudo ficará um pouco mais claro, mesmo que não necessariamente esclarecido.
Como todas as eras que viveram mudanças de paradigma, esta é uma em que o implausível é cada vez mais provável; em que o inconcebível é cada vez menos impossível. Se voltarmos atrás, não há revolução que escape a esse padrão de inusitado. Os signatários da Declaração da Independência, em 1776, brindaram a maior parte da sua vida à Coroa de quem se declarariam independentes. Os barões que negociaram a Magna Carta em 1215, tidos como fundadores do parlamentarismo britânico, dialogavam essencialmente em francês. O próprio Napoleão, primeiro nacionalista corso, depois simpatizante de Robespierre, coroar-se-ia imperador em 1804 — não de um império, mas “da República”.
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